Os músicos Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, fundadores da Legião Urbana, convidaram o ator André Frateschi para ser o vocalista de uma nova formação da lendária banda brasiliense em um novo projeto do grupo iniciado em 2023 e finalizado em 2024 em uma turnê batizada de As V Estações, um verdadeiro espetáculo musical que reuniu sucessos principalmente dos álbuns As Quatro Estações e V apresentada em 26 datas por todo o Brasil.
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Durante este trabalho em algumas ocasiões, Dado abriu o coração e revelou que o principal líder da banda não gostava de fazer shows, enquanto ele e Marcelo amavam o palco:
“O Renato não gostava muito de fazer shows, mas se estivesse por aqui, ficaria muito orgulhoso em assistir ao espetáculo que montamos, que traduz a Legião Urbana e tudo o que somos e fizemos ao longo desses 40 anos.”
Esta foi a terceira vez que eles caíram na estrada e se apresentaram desde a última apresentação da banda, tendo Renato morrido no ano seguinte, com retorno dos remanescentes apenas em 2015, 20 anos após o show de despedida em 14 de janeiro de 1995 na cidade de Santos, litoral paulista, numa casa noturna chamada Reggae Night.
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O evento foi memorável com lotação máxima da casa e muita gente do lado de fora em busca de ingressos. Cerca de 1000 pessoas assistiram e cantaram de forma inflamada o tempo todo, sem saber que a banda tinha seu próprio tempo e que aquela seria a última vez que seriam vistos cantando juntos.
As portas da danceteria foram abertas as 22h e o show começou a meia noite e meia, com duração de quase 2h, num total de 23 músicas entregues aos fãs santistas que cantavam em coro como que combinado, a canção Será, enquanto Renato era anunciado e surgia no palco. Nessa febre de emoção tudo seguia bem, até que em O Teatro de Vampiros, uma latinha de cerveja é arremessada e atinge me cheio a cabeça do cantor que muito nervoso, esbravejou:
“Parou, acende as luzes. Latinha de cerveja tá mal, entendeu? Eu não preciso estar aqui, falou? Quem tacou isso aqui enfia no cu. E não vai mais ter O Teatro dos Vampiros. Odeio quando isso acontece, acho a maior babaquice e falta de respeito. Cortou o barato legal”
Renato se deita no palco, pede que apaguem as luzes e fica em silêncio por minutos enquanto sua banda toca Faroeste Caboclo, mas ele muda e toca Metal Contra as Nuvens. Demora, mas o astro punk se levanta e volta a cantar e ainda mandou bem em suas versões de Lithium do Nirvana e Satisfaction dos Rolling Stones, mas esqueceu parte da letra de Os Anjos de sua própria autoria. Encerrou com Índios, impecável e visceral. Saiu sem bis e ali o Brasil ficava órfão. No apagar das luzes o fim de um fenômeno não apenas musical, mas cultural, mas com um legado que atravessa gerações e segue tocando em rádios, aplicativos de streaming e corações.
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Esta é a Coluna No Tempo
que trata de assuntos históricos marcantes
Kássio Kran é psicólogo, palestrante e terapeuta,
fundador do Instituto Ubuntu e da Fundação Henrique Gabriel dos Santos.
Atualmente é CEO do PASH – Plano Assistencial em Saúde Holística e assessor de cultura em Ceres