Vi a entrevista do Reiller. O cara é muito bom de marketing, sabe cuidar de sua imagem e trabalha muito bem com a câmera. Compareceu à entrevista acompanhado dos correligionários, numa demonstração de força e engajamento de um grupo minimamente interessado e compartilhou o espaço com eles, algo bem democrático, revelando um viés bem participativo de sua forma de fazer política.
Três observações curiosas que extraí da entrevista:
(1) ele disse que é um dos mais preparados para o posto de prefeito. Deixou a modéstia de lado, estufou o peito e cantou de galo. Tudo com muita elegância, sem parecer pretensioso, mas que foi um recibo bem assinado para os concorrentes. Gostei do que ouvi. Luciano e Cleiton também têm mantido essa mesma altivez e isso é importante para quem vem com pretensões de renovação.
(2) disse que não será candidato a vereador. E tem mais, ele está convidando (seduzindo?) pessoas a se filiar ao Republicanos, sob a promessa de que não haverá um puxador de votos, daí, caso haja uma mudança de rumo e ele e o partido dele venha apoiar Edmário ou algum outro candidato e ele se veja obrigado a ser candidato a vereador, cai por terra seus argumentos e ele será o grande puxador de votos do partido. Caracterizando uma “pegadinha do malandro” que só ele será beneficiado. Portanto, para ser coerente e manter a honestidade retórica, ele precisará honrar isso que ele está dizendo, sob pena de ser confrontado durante a campanha.
Neste contexto, há três cenários possíveis: (i) Ou ele está apostando alto na sua pretensão de candidatura a prefeito com possibilidade para no final receber o troféu de consolação de vice; (ii) ou ele será candidato a vereador, fazendo um estrago enorme nas pretensões dos inocentes úteis que acreditaram que não haveria puxador de votos; (iii) ou ele não será candidato a cargo algum, fragilizando o Republicanos, deixando a legenda a reboque de outro partido.
(3) no meio da entrevista, de forma bem despretensiosa e maquiada, ele cutucou o prefeito e a gestão que ele faz parte, usando a demanda de uma cidadã, para cobrar da prefeitura serviços que não estão sendo feitos adequadamente. É tipo o jogador sair de campo e ir para a arquibancada ajudar a vaiar o seu time durante o jogo. Como ele tem um voz macia, um vocabulário diplomático e um tom de voz gospel, os radialistas ficam hipnotizados com o canto da sereia e não conseguem ver essas alfinetadas disfarçadas de bom-mocismo e deixam passar em branco uma oportunidade de exercitar a dialética com mais emoção.
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Por incrível que pareça, a pré-candidatura do Reiller é o fiel da balança para a reeleição do Edmário e é um sinal eloquente de que a reeleição do prefeito está ladeira abaixo. É muita gente abandonando o barco. A reeleição do prefeito está em processo de titaniczação.
Como o Reiller é advogado, fiquei pensando: será que o vereador não está calculando que o prefeito poderá ser barrado pela justiça, lá na portinha das eleições e baralhar o jogo a favor de quem já está com o bonde andando? Daí, ele como não é bobo nem nada, está se antecipando e preparando para herdar o espólio?!
Pelo sim, pelo não, Reiller só tem a ganhar com sua pretensão de disputar o Paço Municipal. O problema é que enquanto ele estiver mantendo sua pré-candidatura, ele sangra a candidatura à reeleição do prefeito e agita o mercado eleitoral da política, pois o que deve ter de gente leiloando apoio e inflacionando alianças, não tá no gibi.
Caso a candidatura à reeleição do prefeito naufrague de vez com esse tanto de gente do lado do Edmário se propondo a ser pré-candidato, a cena shakespeariana do episódio já está pronta e se parecerá com a obra Júlio César e sua icônica cena no Senado, olhando para Brutus – seu homem de confiança – e dizendo: “até tú, Brutus?”
Ceresino é jornalista e historiador popular, apaixonado por Ceres
e um colaborador do portal O Agregador