Em qualquer governo seja da esfera federal, estadual ou municipal, a prioridade deveria ser cuidar dos interesses sociais em favor exclusivo do bem comum, mas na prática, nem sempre isso acontece devido a priorização de questões pessoais ou de politicagem que acabam desmantelando aparatos de políticas públicas em fases embrionárias e até já consolidadas.
Esse vício político é um fenômeno comum, principalmente em troca de gestores numa verdadeira guerra de egos que quebram elos, gerada por orgulho e arrogância, cuja única vítima é a população, em especial a mais sofrida, a mais necessitada escancarando a carência de um povo que não tem acesso democrático de qualidade aos serviços básicos.
Situação esta também vista na cidade de Itapuranga no interior de Goiás, onde após planejamento para a construção de uma política pública para a saúde da mulher em todo o processo de maternidade, sem cunho partidarista, acabou sendo destituída e desmontada em nome de ações voltadas para a politicagem, frente a iminência da troca de gestão em virtude das eleições municipais de 2024.
A enfermeira obstétrica Lia Muniz, concedeu entrevista ao Programa Diário da Comunidade, na Rádio Alternativa FM daquela cidade e contou que atuava no referido município auxiliando no acompanhamento de gestantes e suas famílias desde a concepção até o pós parto e foi desligada contra a sua vontade a partir de uma quebra de acordo por parte da Prefeitura Municipal de Itapuranga por meio de sua Secretaria de Saúde, deixando as mulheres abandonadas.
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Conforme ela, que foi contratada via credenciamento por meio de um processo seletivo claro e transparente, o projeto previa ainda o trabalho de conscientização sobre o parto humanizado, com a construção inclusive de uma cartilha, que em 1 ano de seu trabalho, nunca saiu do papel, ou melhor, não virou papel e não chegou a população, sem que houvesse uma explicação plausível.
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O programa é tradicional na cidade e é apresentado pelos Advogados Tomaz Campos e Mauro Pereira. Nele, a profissional ainda relatou ter sido demitida sob argumentos que deram a entender algum tipo de perseguição política devido a amizade e proximidade da mesma com o atual vice prefeito, Paulo Horta, tendo sido convidada a entrevista, após se manifestar em suas redes sociais sobre o ocorrido, como uma forma de dar satisfação aos pacientes e munícipes que ainda a procuraram após sua demissão ocorrida de forma repentina, prejudicando as equipes de saúde que foram pegas de surpresa com a decisão arbitrária do prefeito.
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O vídeo em questão foi reproduzido em áudio na abertura do programa e tem quase 10 mil visualizações até o lançamento desta matéria e os comentários demonstram que há uma grave ruptura no Partido dos Trabalhadores (PT) de Itapuranga, sendo uma cisão ideológica entre prefeito e seu vice que se bem explorada pela oposição, pode custar a reeleição de Paulinho Imilia, que segundo o apresentador do programa “vende a saúde em troca de votos”.
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A enfermeira, que faz parte de uma comissão interna do COREN-GO (Conselho Regional de Enfermagem de Goiás), denunciou ainda a existência de duas banheiras para realização de parto humanizado, sendo que apenas uma destas se encontra no hospital e não está apta para o uso, sem também uma explicação palpável, que se segue, dada a inoperância dos gestores municipais frente a situação.
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A repercussão do vídeo e da entrevista mostram o quanto o trabalho de Lia Muniz pelo SUS itapuranguense reverberou de forma positiva entre as pacientes que comentaram unanimemente a seu favor, demonstrando um sentimento de desamparo social e coletivo que atinge as mulheres e famílias em uma realidade que começava a ser positivamente modificada, gerando insegurança entre as gestantes que demonstram não confiar totalmente nos trabalhos obstétricos do município.
O entrevistador Dr. Tomaz trouxe a consciência uma possibilidade que pode ter contribuído para a demissão injusta e injustificada de Lia Muniz que além de enfermeira obstétrica, também é doula, conta em seu currículo com especialização em Medicina Tradicional Chinesa e é diretora do PASH, o primeiro plano de saúde holística do Brasil.
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Para ele a exoneração de Lia Muniz, tem como motor, o lobby da medicina que mercantiliza a saúde que foi determinante para a derrubada do projeto, uma vez que as ações elegiam uma ruptura da cultura médica, mesmo sem contrapor-no-la, contrariando os interesses de uma elite poderosa, alicerçada em força financeira e política, que entranhada dentro do sistema, faz de tudo por se sentir ameaçada quando há uma possibilidade nova, que resgata ações naturais e quebra paradigmas, adentrando no mercado. Fato este que pode ser uma explicação para o cerceamento do trabalho da especialista que termina em algo negativamente mais amplo que isso, que é o sucateamento do cuidado em saúde da mulher.
Joaquim Alcides é um filho de Ceres, seus pais foram pioneiros,
atualmente reside no estado do Mato Grosso,
é professor e Doutor em Sociologia e colaborador deste portal