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Pouquíssimos filmes brasileiros nas telonas dos cinemas

Os dados examinados referem-se à análise da bilheteria de filmes brasileiros e estrangeiros exibidos nos cinemas do Brasil de 2009 a 2019
Publicado em 15 de julho de 2024
por Eliéser Ribeiro

No dia 09/10/2023, a revista Piauí, em sua seção “Igualdades”, lançou luz sobre uma estatística reveladora acerca do cenário cinematográfico brasileiro: de cada 100 filmes exibidos nas salas de cinema de todo o país, somente 13 são produções nacionais. Este dado não apenas evidencia a disparidade na representação entre filmes nacionais e estrangeiros nas telonas brasileiras, mas também introduz uma reflexão sobre a magnitude da indústria cinematográfica que será abordada a seguir.

Eu ouvi sobre o número no podcast “Foro de Teresina”, um dos que mais acompanho, que discute o cotidiano da política nacional. Essa informação me fez recordar de um conjunto de dados que eu tinha guardado há mais de 6 meses. Acreditei que poderia esclarecer o tema, então decidi revisitar esses arquivos e realizar uma análise com essas informações. Então os dados aqui examinados referem-se à análise da bilheteria de filmes brasileiros e estrangeiros exibidos nos cinemas do Brasil de 2009 a 2019. A fonte original dessas informações é o Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual — ANCINE. A organização dos dados foi realizada por Pedro Thiago e Matheus Araújo e está disponível no repositório do Kaggle, uma plataforma renomada para compartilhamento de conjuntos de dados e competições de ciência de dados. Maiores informações nas notas metodológicas no final do texto.

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Análise dos dados

Neste texto, analiso tendências no mercado cinematográfico brasileiro ao longo de 11 anos. Os dados revelam padrões de exibição e vários outras ideias interessantes, acompanhe comigo.

O gráfico “Quantidade de Filmes por Ano de Exibição” demonstra um leve aumento na quantidade de filmes exibidos ao longo dos anos. Notavelmente, 2015 destaca-se com um pico significativo de 794 filmes, superando os outros anos do intervalo analisado. Este crescimento indica uma expansão no mercado cinematográfico durante esse período. Ao somar todos os títulos ao longo dos 11 anos analisados, temos uma representação robusta do cinema no Brasil. Os valores acumulados superam a marca de 6.000 títulos, mostrando a relevância do setor no país.

O gráfico “Renda Total por Ano de Exibição” revela uma tendência ascendente na receita de filmes ao longo dos anos, até cerca de 2017. Este aumento sugere uma preferência crescente dos consumidores por esse formato de entretenimento. Em 2013, por exemplo, a renda alcançou aproximadamente 1.5 bilhão, enquanto em 2017 atingiu quase 3 bilhões, evidenciando um crescimento substancial. Tal progressão indica que o cinema continuou sendo uma escolha popular para lazer e cultura. No entanto, após 2017, observa-se uma oscilação nos valores, possivelmente devido a fatores externos, mas a preferência pelo cinema permanece evidente. Nenhum dos valores citados nesse texto foi corrigido pela inflação.

Espantoso! A soma da renda total dos filmes ao longo desses 11 anos é de impressionantes R$ 21,9 bilhões! Esse valor astronômico evidencia o tamanho colossal da indústria cinematográfica, e estamos falando apenas do mercado brasileiro! É quase inacreditável imaginar a magnitude de capital gerado, mostrando que o cinema é, sem dúvida, uma potência gigantesca no panorama do entretenimento nacional. Essa cifra gigante nos faz pensar no poder e na influência do mundo da sétima arte em nossas vidas e economia. Absolutamente incrível!

Evolução do público nos cinemas

Aqui eu exploro a trajetória do público dos cinemas brasileiros entre 2009 e 2019. Ao desvendar esses números, somos transportados para um universo de emoções e histórias que refletem a paixão do Brasil pelo cinema. Acompanhe nossa análise.

Ao analisar a evolução do público nos cinemas brasileiros de 2009 a 2019, observamos tendências interessantes. Notadamente, 2016 destaca-se como um ano recorde, atraindo um público impressionante de 184 milhões de pessoas às salas de cinema. Este pico pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo lançamentos de filmes altamente antecipados e campanhas de marketing bem-sucedidas. Ao somar o público ao longo dos 11 anos, um número colossal emerge: mais de 1,7 bilhão de pessoas foram aos cinemas no Brasil durante esse período, reforçando o papel central do cinema na cultura popular brasileira.

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Eu fiquei viajando aqui e pensando em um universo paralelo, onde o tempo se desdobra e microrrelações tecem os laços da existência, uma numerosa multidão de 1,7 bilhões de pessoas escolheram, ao longo de 11 ciclos solares, mergulhar nas salas escuras do cinema. Cada ingresso comprado é uma constelação de emoções, desejos e memórias. Nos padrões de consumo, vislumbramos histórias de amores vividos, alegrias, histórias fantásticas, lutas travadas e sonhos perseguidos. Enquanto as marés da vida fluíam — nascimentos, despedidas, encontros e desencontros — uma constante permanecia: a decisão mágica de escapar para um mundo cinematográfico, mesmo que por algumas horas, e se perder na arte do impossível. Doidera, né? Bom, deixa eu voltar para a realidade dos dados.

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Os top 10

A cinematografia, seja ela nacional ou estrangeira, tem o poder de atrair milhões de espectadores, e uma análise dos 10 filmes mais assistidos de cada categoria nos oferece insights valiosos sobre as preferências do público brasileiro.

Os 10 filmes estrangeiros que tiveram o maior público nos cinemas brasileiros são majoritariamente grandes produções de Hollywood, dominadas por franquias e sequências reconhecidas mundialmente. “Vingadores: Ultimato” lidera a lista, seguido por clássicos reinventados como “O Rei Leão”. A presença marcante de filmes do universo Marvel, como “Vingadores: Guerra Infinita” e “Capitão América: Guerra Civil”, revela a forte influência dos super-heróis no gosto do público brasileiro. Estes títulos refletem tendências globais e a capacidade do cinema estrangeiro de atrair massivas audiências.

Os 10 filmes brasileiros com maior público refletem a diversidade e riqueza da produção cinematográfica nacional. “Nada A Perder” e “Os Dez Mandamentos — O Filme” destacam-se, evidenciando o interesse por temas religiosos. Comédias como “Se Eu Fosse Você 2” e a série “Minha Mãe é uma Peça” ressoam com o humor brasileiro, atraindo grandes públicos. “Tropa de elite 2”, com sua abordagem crítica e realista, também figura na lista, demonstrando a variedade temática e a capacidade do cinema nacional de conectar-se com diferentes audiências.

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Brasileiros x Estrangeiros

O Brasil produz anualmente entre 90 a 100 filmes. Embora seja um número não desprezível, é muito modesto diante do imenso potencial criativo brasileiro. O país tem talento e diversidade para expandir ainda mais sua presença no cenário cinematográfico mundial, mostrando que há espaço para crescimento e reconhecimento de nossas histórias e cultura.

Os números revelam uma realidade desafiadora para o cinema nacional. Apesar da produção brasileira representar 12,3% da renda total, com R$ 2,69 bilhões, está significativamente atrás da produção estrangeira, que domina o mercado com avassaladores 87,7% e R$ 19,21 bilhões. Isso reflete a poderosa influência de filmes estrangeiros, principalmente hollywoodianos, no gosto do público brasileiro. Enquanto o cinema nacional produz obras de qualidade e relevância cultural, enfrenta desafios na competição com mega produções internacionais. É crucial investir em promoção e distribuição para equilibrar essa balança e valorizar o cinema brasileiro.

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Ao analisar a presença do cinema brasileiro e estrangeiro nas salas nacionais, percebe-se uma distinção marcante em termos de público e renda. Filmes estrangeiros, em grande parte oriundos de Hollywood, dominam consideravelmente, tanto em bilheteria quanto em público, refletindo o poder de produções internacionais de alto orçamento e sua capacidade de atrair massas. Por outro lado, o cinema brasileiro, embora apresente filmes com significativa audiência, ainda enfrenta desafios para alcançar os patamares das grandes produções estrangeiros. Essa disparidade revela a necessidade de fortalecer a promoção e distribuição do cinema nacional, bem como reconhecer e valorizar sua diversidade e riqueza cultural.

A indústria cinematográfica nacional é um bem precioso, sendo um espelho da cultura, história e diversidade brasileiras. No entanto, em um mercado globalizado onde produções estrangeiras com orçamentos robustos dominam as salas de cinema, é fundamental que haja políticas de proteção e incentivo ao cinema brasileiro. Estas políticas não apenas ajudariam a nivelar o campo de jogo, mas também garantiriam que histórias genuinamente brasileiras continuem sendo contadas, preservando nossa identidade cultural. Investir em capacitação, financiamento e promoção do cinema nacional é investir na riqueza cultural e econômica do Brasil, garantindo que nossa voz seja ouvida e valorizada aqui e globalmente.

O exemplo da França

A política de cotas de filmes adotada pela França é um exemplo ilustrativo de como um país pode tomar medidas assertivas para proteger e promover sua indústria cinematográfica. A política de cotas de filmes na França demonstra um compromisso sério com a preservação e promoção da cultura e indústria cinematográfica local e europeia. Instituir um percentual mínimo de exibição de filmes franceses e europeus não apenas protege a identidade cultural, mas também assegura que a diversidade de vozes e histórias encontre espaço em um mercado saturado por produções estrangeiras, em especial as americanas. A obrigatoriedade de destinar 40% do tempo de exibição em salas de cinema para filmes franceses e um adicional de 20% para produções europeias é uma prova do compromisso francês com sua indústria cinematográfica.

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O Brasil, com sua riqueza cultural e histórica, poderia se inspirar na política de cotas francesa para fortalecer sua indústria cinematográfica. Assim como na França, as salas de cinema brasileiras são dominadas por produções estrangeiras, o que pode obscurecer e limitar a visibilidade do cinema nacional. Estabelecer cotas semelhantes às francesas poderia garantir que o cinema brasileiro tenha a visibilidade que merece, promovendo a diversidade e incentivando a produção local. Além disso, ao adaptar essa política para canais de televisão e plataformas de streaming, o Brasil também estaria investindo em sua soberania e diversidade cultural, garantindo que o cinema brasileiro seja visto, valorizado e apreciado por gerações futuras.

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Concluindo

A indústria cinematográfica brasileira, apesar de sua rica diversidade cultural e capacidade de contar histórias universais por meio de uma perspectiva única, enfrenta desafios significativos em seu próprio território. A predominância de filmes estrangeiros nas salas de cinema brasileiras não é apenas uma questão de gosto do público, mas também reflete as barreiras enfrentadas por produções nacionais em termos de financiamento, marketing e distribuição. É imperativo que se reconheça a importância do cinema nacional como um veículo para a preservação da identidade cultural do Brasil, e se adotem medidas que garantam seu espaço e visibilidade.

O cinema nacional movimenta volumes impressionantes tanto em público quanto em receita. Ao longo de 11 anos, atraiu cerca de 1,7 bilhões de pessoas e gerou uma renda astronômica de R$ 21,9 bilhões. Tais números não podem ser simplesmente relegados à categoria de mero entretenimento. Eles refletem a força e o potencial dessa indústria, demonstrando que o cinema é um setor estratégico, capaz de influenciar a cultura, a economia e o comportamento do público brasileiro.

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A conclusão clara é que, para que o cinema brasileiro floresça e alcance um público mais amplo, é necessária uma combinação de políticas de incentivo, investimento em produções de qualidade e uma estratégia de marketing eficaz. Somente assim o talento brasileiro poderá brilhar nas telonas, tanto em casa quanto no cenário internacional, e a narrativa brasileira poderá ser apreciada por públicos de todos os lugares.


Eliéser Ribeiro é sociólogo de dados, mestre em Sociologia, especialista em IA,
especialista em pesquisa e análise de dados. Trabalha com Python, R, SQL, Power BI, Tableau

Ficha Técnica

Editor Chefe: Luiz Fernando
Supervisão: Rafaela Prado
Redação: Kássio Kran

Equipe:
Carlos Artur Guimarães
Pedro Thiago
Matheus Araújo

Foto em destaque publicada com respeito ao Direito de Imagem
Créditos: Dmitry Demidov/Pexels

 

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