Nesta terça (18), a internet pôde presenciar um momento bastante preocupante, quando diversos sites, plataformas e aplicativos ficaram indisponíveis por horas devido a um problema com a Cloudflare. Mas, afinal, o que é a Cloudflare e por que esta empresa é responsável por tanta coisa na internet?

Para entender isso, antes precisamos saber como funciona o acesso a sites na internet. E, quando falamos de sites, precisamos falar de servidores. Mas o que é um servidor?

Basicamente, o servidor é um computador que fica ligado 24 horas por dia, geralmente alocado em um datacenter. Ele é responsável por armazenar os dados do website, códigos, imagens, vídeos e tudo o que você vê e com o que interage quando navega na internet. Então, quando você acessa o Google, está vendo um conteúdo transmitido do servidor para o seu computador ou smartphone em questão de milissegundos.

Os servidores são endereçados por meio dos chamados endereços IP, que são identificadores únicos globais para todo e qualquer dispositivo conectado à internet, inclusive os servidores. Então, quando acessamos um domínio (ex.: google.com), estamos acessando, na verdade, o IP do servidor que fornece o conteúdo do Google, e isso vale para todos os sites na internet. Se não existissem domínios, para acessar o Google precisaríamos digitar no navegador o endereço IP do servidor, que nesse caso é 142.251.163.138. Se você colar esse IP no seu navegador, ele abrirá o Google.

O que é Cloudflare?

A Cloudflare é uma das maiores redes que operam na internet. Muitas empresas usam seus serviços para aumentar a segurança e o desempenho de seus sites e sistemas, incluindo as plataformas afetadas durante o incidente. Foram reportadas quedas em serviços como Spotify, X, OpenAI, Canva, Discord, Bradesco, Nubank e várias outras gigantes. As interrupções levaram horas para serem resolvidas. Mas se engana quem pensa que apenas as grandes foram afetadas. Plataformas brasileiras como os aplicativos do Pash – Plano Assistencial em Saúde Holística, e também o portal OAgregador ficaram indisponíveis durante o apagão.

A Cloudflare fica entre o cliente e o servidor, fornecendo proteção, firewall e otimização na entrega de conteúdo por meio de cache e CDN, Content Delivery Network ou Rede de Distribuição de Conteúdo. Ela faz a intermediação entre o cliente que está acessando o site e o servidor que entrega o conteúdo.

Para exemplificar melhor: um serviço de streaming armazena milhões de horas de conteúdo em vídeo que são distribuídos para usuários no planeta inteiro. Os servidores da plataforma ficam alocados nos Estados Unidos, onde estão todos os arquivos dos filmes e séries. Pela distância, ao acessar o serviço do Brasil, seria esperado notar atraso no carregamento do conteúdo, causando o famoso buffer. É aí que entra a Cloudflare.

A Cloudflare tem servidores distribuídos pelo mundo, inclusive no Brasil. Portanto, o servidor da CF está mais próximo de mim do que o servidor do streaming nos Estados Unidos. Como todo o tráfego passa pela CF, essa distância é reduzida, proporcionando um tempo de resposta menor. Mas não para por aí. Cada vez que um conteúdo é transmitido dos servidores da plataforma para o usuário e passa pela CF, parte dele fica armazenada nos servidores da Cloudflare, dispensando a necessidade de buscar o conteúdo novamente nos Estados Unidos. Isso torna as conexões mais rápidas e ajuda as plataformas a economizar enormes quantidades de transferência de dados por meio dessa ponte, chamada tecnicamente de Proxy Reverso.

Cerca de 20% dos sites e aplicativos da internet utilizam a Cloudflare para intermediar suas conexões com clientes no mundo todo. Por isso, se ela cai, esses 20% também ficam indisponíveis, já que, para acessar o servidor original, a CF precisa estar funcionando plenamente.

O CEO Matthew Prince pediu desculpas e disse que “falhou com os clientes”.

“Dada a importância da Cloudflare no ecossistema da Web, qualquer interrupção de qualquer um dos nossos sistemas é inaceitável. O fato de ter havido um período em que nossa rede não foi capaz de rotear o tráfego é profundamente doloroso para todos os membros da nossa equipe. Sabemos que decepcionamos vocês hoje.”

Matthew Prince, CEO

No blog oficial da empresa, foi explicado o motivo do problema que inicialmente acreditavam que poderia ser um tipo de ataque cibernético, o que foi descartado após mais investigações. A falha foi totalmente interna, segundo publicado, o problema ocorreu devido ao serviço de gerenciamento de bots, que diferenciam uma pessoa real de um robô quando se acessa um site.

Apagões estão cada vez mais comuns

Nos bastidores, muitos especialistas debatem sobre o monopólio de empresas (em sua grande maioria norte-americanas) no mercado de tecnologias e serviços de cloud computing. Como pudemos entender, a Cloudflare é uma das grandes bases que operam uma grande porcentagem da internet, mas não é a única.

The entire internet literally rests on AWS, Cloudflare, and a sleepy submarine cable pic.twitter.com/OKpciLqOfR

— e-Paper (@affani14) November 18, 2025

A Amazon Web Services foi criada inicialmente para atender a demanda da Amazon. Ela possui uma das maiores infraestruturas de datacenters e cloud do mundo, e é responsável por disponibilizar conteúdo de milhares de plataformas que dependem totalmente dela. E tivemos uma prévia da responsabilidade da Amazon no final de outubro deste ano, quando uma pane deixou parte da internet fora do ar. Na ocasião, um problema na região US-EAST-1, como é chamado seu grupo de data centers no norte da Virgínia, nos Estados Unidos, causou uma pane que deixou instável por mais de 15 horas a operação de empresas como Mercado Livre, Picpay e iFood.

Luiz Fernando é programador, arquiteto de software, CTO do Pash com mais de 15 anos de experiência no desenvolvimento de sites e aplicativos.