Estava vendo uma notícia de que o prefeito de Rialma teve a iniciativa de ajudar na retomada do time do Rialma. Isso me despertou uma pergunta: Como anda o time do Ceres Esporte Clube? Digo isso porque o apoio ao esporte e em especial ao futebol, historicamente tanto em Ceres quanto em Rialma, só prospera se tiver a mão do prefeito.
Quer que eu prove? Vou contar uma breve historinha do Ceres Esporte Clube, cruzando os dados relativos aos títulos do Leão do Vale com a gestão de prefeitos-amigos simpatizantes do esporte. Uma prova de que o apoio cultural e esportivo por parte do poder público influencia direta ou indiretamente os resultados esportivos, sobretudo em cidades do interior.
Quer ver só?!
O Ceres Esporte Clube é mais velho do que o município de Ceres. O time do Ceres nasceu em 1947, enquanto a cidade de Ceres emancipou-se politicamente em 1953. O primeiro título veio em 1959, quando o prefeito era Sílvio Mundim Pedrosa. Naquele ano, Ceres foi campeão do Interior vencendo o time do Uruana e no ano seguinte foi bicampeão vencendo o time do Jataiense. O técnico naquela ocasião foi o vereador Efraim Batista, aliado e correligionário do prefeito Sílvio Mundim. Nessa época o time era amador e já trazia muitas alegrias ao torcedor alvinegro ceresino.
A relação esporte e política anda de mãos dadas não só naquela época e o ataque a um sempre espirra no outro. Veja o exemplo da gestão do prefeito Sílvio Mundim. Foi só os reacionários ceresinos começarem uma brutal perseguição ao prefeito querendo cassar seu mandato, para atingir indiretamente o Leão do Vale, pois a partir do momento que o prefeito foi impeachmado o time alvinegro ceresino amargou resultados ruins no esporte. Só não foi pior, por causa de um protagonista fundamental da história do Leão do Vale. Estou me referindo ao Efraim Batista, o vereador e técnico do time do Ceres que continuou à frente da equipe. Após o golpe contra o prefeito, foram três anos sem título. O time do Ceres só se recompôs do jejum de título em 1964, ano em que foi campeão do interior pela terceira vez. O prefeito era Benedito Aranha. No ano seguinte, ano de eleições municipais, com Sílvio Mundim no páreo, foi um incentivo a mais para Ceres ganhar pela quarta vez o título de campeão do interior. “Tetra campeão amador era demais. Chega! Agora devemos disputar o campeonato goiano de profissionais”. Na esteira desse lema, Efraim e Sílvio Mundim foram eleitos vereador e prefeito de Ceres mais uma vez. Primeiro ano da segunda gestão de Sílvio Mundim o time do Ceres se profissionalizou e passou a disputar a primeira divisão. Naquela época, é bom que se diga, o campeonato goiano (de profissionais) tinha duas divisões: a 1ª Divisão, uma espécie de divisão de acesso, equivalente hoje à 2ª divisão; e a Divisão Especial, que era a elite do futebol goiano, com Goiás, Vila Nova, Atlético e outros timaços. Essa nomenclatura mudaria somente na década de 80, onde a 1ª Divisão passaria a ser denominada 2ª Divisão; e a Divisão Especial passaria a ser denominada 1ª Divisão.
Pois bem, feito os esclarecimentos, importante destacar que neste ano, ou seja, no primeiro ano da segunda administração de Sílvio Mundim, Ceres não só se profissionalizou e foi disputar a primeira divisão como foi campeão invicto da competição, tendo ainda o centroavante Brandão como artilheiro do campeonato e o Dediê como um dos melhores atacantes do torneio. Alegria maior para a cidade não teve. Até hoje, pioneiros da cidade lembram desse feito como algo epopeico. Primeiro ano de profissionalização e o time não só ganhou o campeonato como fez o artilheiro e o destaque do campeonato. Só o ouro!
No ano seguinte, Ceres foi disputar a divisão de elite, a tão cobiçada Divisão Especial, composta pelos melhores times de Goiás. Foi neste ano que novamente o prefeito Sílvio Mundim foi vítima de lawfare, perseguido politicamente por seus opositores, teve seu mandato cassado através de um golpe pérfido. Tempestade na política, afogamento no futebol. Assim foi a sina do Ceres Esporte Clube que amargou naquele ano o rebaixamento para a primeira divisão.
Mas foi curta a vida do Leão do Vale na primeira divisão, durou apenas um ano. Em 1968, Ceres novamente é campeão daquela divisão e sobe igual foguete à divisão de elite do futebol goiano. O prefeito daquela época foi Orlando de Souza, da Arena. Subiu, mas não prosperou e não caiu por pouco. Em 1970, o prefeito era Geraldo de Melo e neste ano, o time do Ceres não disputou o campeonato, pois havia pedido licença do futebol profissional, abrindo um hiato de uma década sem disputar campeonato profissional.
Se nas gestões de Geraldo de Melo e Antônio Hellu não houveram disputa de campeonato goiano pelo time do Ceres Esporte Clube, com a chegada de Valter Melo à prefeitura a coisa muda de figura. A primeira leva de títulos ocorreu sobretudo sob o ciclo de influência do prefeito Sílvio Mundim, na segunda fase, entra outro ator e a partir das gestões de Valter Pereira Melo, o Leão do Vale entra em um novo ciclo e em 1980, Ceres retorna a disputar o campeonato goiano. Nesta época houve a mudança na nomenclatura das disputas. A 1º Divisão passou a ser denominada 2ª Divisão; enquanto a Divisão Especial passou a ser denominada 1ª Divisão. Ceres passou a disputar a 2ª Divisão e em 1981, Ceres perdeu a final para o Nacional de Itumbiara e ficou com o título de consolação de vice-campeão. Em 1983 repetiu a sina, tornando-se novamente vice-campeão, perdendo o título para quem? Adivinha… Nacional de Itumbiara, de novo.
Ceres só viria a ganhar um título novamente em 1984 na seletiva da 2ª divisão numa das mais acirradas competições da história do alvinegro ceresino, pois naquele ano Ceres sagrou-se campeão em cima do seu arquirrival Goianésia. Não houve um enfrentamento direto na final entre Ceres e Goianésia, já que o modelo daquela seletiva era de pontos corridos. Naquela competição, Ceres e Goianésia terminaram o campeonato ambos com 13 pontos, mesmo número de vitórias e o desempate veio somente no saldo de gols. Na emocionante última rodada, Ceres disputou em casa contra o Monte Cristo e fez seu dever de casa, ganhando por 1 x O. Já o Goianésia jogou fora, foi a Rio Verde enfrentar o time da casa e empatou em 1 X 1. O torcedor alvinegro foi ao estádio com o radinho de pilha no ouvido atento ao resultado em Rio Verde das Abóboras. O prefeito de Ceres dessa época foi Carlos Mendes, enquanto Valter Melo era Deputado Estadual, ambos pelo PMDB. Dessa parceria nasceram duas obras importantes para o esporte e cultura da cidade: O estádio Centro Olímpico e a Praça do G3. Ambas obras foram inauguradas nas gestões de Carlos Mendes tendo o deputado Valter Melo como coadjuvante.
Houve novamente um longo período de jejum de títulos e em 1992, Ceres sagra-se campeão goiano da 2ª divisão. Valter Melo foi o prefeito naquele ano e Vanda Melo (PRN) e Carlos Mendes (PMDB) eram deputados estaduais por Ceres. Na eleição seguinte, Carlos Mendes candidatou-se para Deputado Federal, elegendo-se como segundo suplente e assumindo uma cadeira no Congresso no dia 20 de abril de 1995, ficando até 26 de abril saindo para ser Secretário Estadual da Saúde no governo de Maguito Vilela. Em 1997 reassume sua cadeira no Congresso. Neste ínterim a parceria entre as famílias Melo e Mendes foi rompida e daí em diante, só ladeira abaixo para o Ceres Esporte Clube que disputou, disputou e nada de títulos. A curiosidade é que a parceria política entre as famílias mandantes da cidade foi cindida, tendo como pivô o atual prefeito, Edmário de Castro. Na ocasião, Carlos Mendes e Valter Melo tinham acordado uma chapa com Valter Melo pré-candidato à prefeito e Edmário de vice para as eleições municipais, mantendo a aliança das famílias Melo e Mendes. Porém, numa reviravolta de última hora, Valter Melo concede uma entrevista ao radialista Osvaldo Carlos no Jornal das Onze e revela que seu vice será Marciliano e não Edmário. Dias depois, num final de semana, onde acontecia um festival de música no Plaza, promovido pelo empresário Cezinha Promoções, Edmário anuncia sua candidatura à prefeito, ao vivo, para os participantes e presentes do local. Travava-se aí, o início de uma das batalhas mais disputadas e concorridas da história da cidade, com sequela direta ao Leão do Vale que, a partir daquele momento, não ganharia mais nenhum título como equipe profissional.
O que aconteceu? Buscar respostas na política pode ser insuficiente, bem como tentar eleger bodes expiatórios para responder à capitulação do Leão do Vale. Na verdade, houve um turbilhão de fatores que somados levou o time do Ceres à bancarrota. Fatores políticos, como a Lei Pelé que passou a exigir dos clubes prestação de contas criteriosa, principalmente se havia dinheiro público envolvido; instituição e regulamentação do passe do jogador; exigência de profissionalização do clube, ou seja, transformar a gestão dos clubes em empresas. Nesse rol há um aumento nos impostos e obrigações dos clubes com a Receita, INSS, Ministério e Justiça do Trabalho e consequentemente as dívidas oriundas dos calotes dos clubes. Posteriormente veio ainda a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei do Teto de Gastos, ambas estabelecendo critérios rigorosos ao limite de gastos públicos, além de limitar o relacionamento financeiro do poder público com os clubes de futebol. Tudo isso somado, ponderou na decadência do futebol ceresino, isso sem falar no amadorismo, má-fé e talvez até mesmo corrupção entre os dirigentes que passaram pela diretoria do clube, são possibilidades complexas que podem ter sido um complicador a mais nessa novela dantesca que se tornou a história do Ceres Esporte Clube dali para frente.
Recentemente, na gestão do Rafaell Melo houve um esforço para ressuscitar o futebol profissional, porém o tempo foi curto e quando o pêndulo político inclinou para o outro lado político, o futebol profissional não recebeu a mesma atenção e, pelas notícias que me chegam, parece que continua sem investimento ou apoio do prefeito atual.
Essa relação entre futebol e política é mais do que intrínseca, é algo imbricado no seio do povo e dos políticos, portanto considero indissociáveis. Porém, para aqueles estudiosos mais sistemáticos do tema, importante deixar claro que esse cruzamento de dados que faço entre a conjuntura política com o contexto esportivo é apenas um ensaio, sem o rigor científico e técnico que a academia exige, mas é uma tentativa honesta de relacionamento e encaixe de duas peças da conjuntura que se interpõe de forma casual ou sistemática. Digo isso, porque se for identificado alguma imprecisão na análise com relação aos dados e as informações contidas neste post, podem apontar que terei o maior cuidado em corrigir ou atualizar, pois como diria JK, “não tenho compromisso com o erro”.
Ah, uma correção: desculpem-me a frase “breve historinha” que contei lá em cima no segundo parágrafo. Dimensionei errado! Não pensei que iria me estender tanto…