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CUIDADO, CERES

Essa carta apócrifa foi encontrada num arquivo em Goiânia e faz parte de um estudo de doutorado.
Publicado em 13 de fevereiro de 2022
por Professor Pardal

Essa carta apócrifa foi encontrada num arquivo em Goiânia e faz parte de um estudo de doutorado. Esse texto muito provavelmente foi escrito por um ceresino nazifascista e foi possivelmente panfletado em Ceres, em abril de 1964 – conforme datado, poucos dias após o golpe militar. Os mais ignorantes e principalmente grande parte da elite que lucrou com o regime, são saudosos dessa época e hoje estão felizes com a ascensão de Bolsonaro – capitão parido nos porões da ditadura e que trouxe à tona todo o excremento remexido dessa época para os dias atuais, influenciando e desinibindo essa corja à emitirem suas opiniões da forma que melhor lhe convém, passando por cima de qualquer escrúpulo e até mesmo do senso de ridículo. 

Essa ligação entre o tempo que foi escrito essa carta e os dias sombrios atuais nos fornece pistas sobre o perfil do autor ou dos autores e é capaz de nos ajudar a identificar o tipo de gente que usa esse expediente, pois assim como outrora, esses crápulas nazifascistas estão novamente se sentindo à vontade para ofender e propagar suas fake news.

A primeira pista, com certeza, podemos deduzir que se trata de algum simpatizante e eleitor de Bolsonaro e que na época foi simpatizante da ditadura militar. Desculpe o óbvio ululante, mas alguém poderá dizer: – mais de 70% dos eleitores da cidade de Ceres votaram nesse crápula! Sim, mas diferentemente de hoje, naquela época, eleitor para votar tinha que ser alfabetizado. E o número de analfabetos no país era altíssimo. O voto antes da constituição de 88 era mais elitizado. Portanto, apesar de Ceres já ter mais de 50 mil habitantes pouco depois de sua emancipação, com relação a eleitores, havia poucos milhares de votantes – algum número abaixo de 8 dígitos – em idos de 64. A título de exemplo, nas eleições municipais de 1966, dois anos depois do ocorrido, Geraldo Melo, o vereador mais votado daquela eleição, obteve 601 votos e muito provavelmente, menos de 10 mil eleitores votaram naquele pleito. O exemplo ajuda a mensurar o universo de eleitores ativos da época.

Outro detalhe importante daquele tempo é que havia uma rixa política local muito acirrada na cidade. Foi um período de caça às bruxas e Ceres, politicamente, pulsava a mil graus. Só para contextualizar, dois anos antes desse ocorrido, houve a cassação golpista do mandato de Sílvio Mundim Pedroza um garoto de 24 anos que tinha sido eleito no calor da insatisfação popular, já que o primeiro mandato de prefeito tinha sido decepcionante para muitos que apoiaram a ação política precipitada de emancipação da cidade. Para piorar, dois anos após o golpe militar de 64, outra vez, Sílvio Mundim Pedroza se candidata e ganha. Dessa vez, Ceres virou cenário de filme de faroeste e o quiprocó pipocou feio na cidade culminando em nova cassação. Foi entre esses três fatos golpistas que inspiraram a mente doentia desse nazifascista a escrever essa denunciação caluniosa contra os democratas progressistas ceresinos. Talvez seja esse fato – relativo à primeira parte- que o autor ou autores chamam na carta de “dias intranquilos que passamos“.

Complementando a contextualização, no campo da disputa da hegemonia política da cidade de Ceres, havia uma luta entre duas forças; de um lado havia o grupo liderado por Dr. Domingos Mendes que em 64, salvo engano, era deputado estadual e o prefeito de Ceres era seu afilhado político, o fazendeiro e empresário Benedito Aranha; Do outro lado da rixa política havia Leão Caiado, uma espécie de Barão do Cerrado Goiano cujo peso da influência comandava grande parte do Estado, em especial a região que ia de Goiás Velho, passando pelo Vale do São Patrício e se estendendo até as proximidades da região do bico do papagaio. Esse grupo eram representantes da UDN – uma poderosa organização miliciana latifundiária que existia e ainda existe no Brasil e que comandava o campo, o agronegócio e a zona rural do país. Só para se ter uma ideia do poderio dessa milícia que depois da ditadura militar se tornaria um partido (PFL, depois DEM e atualmente está em vias de se tornar o União Brasil), foi a influência desses fazendeiros sob os generais militares que comandavam o Brasil na ditadura militar. Mais especificamente em 1968, o General Costa e Silva – ditador que comandou o Brasil, aprovou a Lei 5.465 de 3 de julho de 1968, apelidada de Lei do Boi. Essa lei concedia uma cota de 80% (50%+30%) das vagas nas universidades públicas brasileiras para filhos de fazendeiros. Essa lei prevaleceu até 1985 e serviu para aprofundar a desigualdade social e favorecer ainda mais os privilégios dessa elite. Apesar da lei falar em filhos de agricultores com ou sem terra é sabido que o filho do camponês pobre não foi beneficiado, já que era obrigado a ajudar o pai no campo. O fato é que a maioria dos políticos ceresinos se beneficiaram desta lei e Ceres se tornou um campo fértil de profissionais formados com curso superior, a maioria deles, filhos de políticos ou os próprios políticos. Um contraponto interessante é que no governo Lula, houve também uma política de cota, só que diferentemente daquela da ditadura militar, essa lei beneficiava negros, índios, pardos e seus descendentes e equivalia apenas a 20%. Quem foram aqueles os que vociferaram contra essa lei? Justamente os simpatizantes do PFL e sua corja, herdeiros da UDN, capitaneados pelo Senador Demóstenes Torres – a voz contundente dessa elite hipócrita no Congresso.

Com um retrato desses, não há dúvida que tal carta só poderia ter sido escrita por alguém pertencente a essa facção política, mesmo porque o grupo capitaneado por Dr. Domingos, na época da Ditadura Militar, foi para a “oposição” e muitos dos nomes dessa fatídica carta, estão próximos dos Mendes, em especial, o saudoso Efraim Batista, uma pessoa com uma história honrosa na cidade, em especial, a frente do Ceres Esporte Clube – time do coração dos cidadãos da cidade – cuja as maiores conquistas esportivas vieram das mãos dele, seja como treinador ou presidente.

Leia agora: A relação do Time do Ceres com a Política

Saber que a carta pode ter sido escrita por esse grupo não ajuda muito na elucidação da autoria, filtra, mas é insuficiente. – Desculpa decepcionar quem achou que lendo esse texto, iria encontrar um autor ou autora. O que pretendi neste texto, nem foi isso, mas sim, mostrar que a questão ideológica move mentes de forma coletiva e que o grupo através da influência de textos em forma de cartas escritas pela elite podem causar danos à sociedade. Exemplos não faltam. A ascensão do bolsonarismo é fruto justamente dessa ideologia maior que é o nazifascismo, duas concepções de sociedade que pretendiam exterminar minorias como os judeus, ciganos e negros, todos estrangeiros, na maior onda xenofóbica dos últimos tempos. Cito bolsonarismo, porque hoje, temos também esse ataque a negros, gays, mulheres e pobres em geral e isso é uma repetição variada do fascismo e do nazismo que insiste emergir das profundezas do inferno.

Lembrei dessa carta e resolvi escrever sobre ela porque vejo que Ceres se tornou um celeiro fértil de ideias e práticas nazifascistas. Quem não se lembra por exemplo de um ato insano que ocorreu anos atrás na cidade em que um cidadão ofendeu a cidade vizinha de forma desonrosa, usando o desdém pela cidade coirmã como um instrumento de humor. Outro caso que também foi relativizado envolveu o centro de detenção da cidade e o indício de fortes abusos de autoridade contra os presos com denúncia de tortura explícita com direito a imagens e filmagens. Definitivamente não são casos isolados e tem na ideologia seu ponto de conexão.

E a conexão não para por aí. Veja por exemplo o caso dos últimos acontecimentos envolvendo apologia ao nazismo feita por um influenciador digital apelidado de Monark; ou do Adrilles que fez uma saudação nazista; Ou ainda no caso do presidente da Fundação Palmares, que aplaudiu o homicídio do refugiado congolês Moïse Mugenyi, brutalmente espancado no Rio de Janeiro, dizendo que a vítima foi culpada por seu próprio assassinato. Tudo isso chegou a ser defendido nas redes sociais por internautas ceresinos em grupos do facebook e até mesmo no próprio perfil pessoal deles. São ceresinos que não tem pudor algum de esconder suas preferências nazistas. E isso é preocupante, porque nazistas são uma ameaça à vida humana e assim provaram enquanto força política e partidária. Estes exemplos são apenas alguns entre tantos que podemos citar sobre o vírus da ideologia nazifascista brotada em todo o mundo, pronta para oprimir minorias e que em Ceres, parece que convive sem constranger ou sem causar náuseas, já que é praticado por elementos da elite ou por seus capitães do mato na maior naturalidade possível.

É tempo de alerta e, lembremos, o fascismo assim como o nazismo devem ser combatidos incondicionalmente.

Ficha Técnica

Texto: Professor Pardal

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O evento reuniu cerca de 30 entidades da cidade, com relevante prestação de serviços a comunidade
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