Uma pesquisa nacional conduzida pela consultoria Quaest, em maio de 2024 com 2045 respondentes de todo o país, revelou dados importantes sobre a penetração da IA no Brasil. O dado mais impressionante da pesquisa é o quanto a IA ainda é desconhecida por grande parte da população.
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Apenas 21% dos brasileiros relataram já ter utilizado alguma ferramenta de IA, enquanto 76% nunca tiveram contato com essa tecnologia. (Meu comentário a parte disso é como muitas pessoas não tem ideia de como a IA já está em muitas soluções que elas usam no dia-a-dia). Esses números revelam uma diferença significativa entre aqueles que já exploraram os benefícios da IA e a ampla maioria que ainda não teve essa experiência.
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Para compreendermos melhor esses dados, é essencial mergulharmos em uma análise técnica-sociológica que desvende os fatores por trás dessa realidade. Ao segmentarmos o uso de IA por faixas etárias, 33% dos jovens entre 16 e 34 anos relataram ter utilizado IA, enquanto 65% não a usaram. Já entre a faixa de 35 a 59 anos, o número cai drasticamente: apenas 19% utilizaram IA, com 78% afirmando não ter tido contato com essas ferramentas. Por fim, entre os entrevistados com 60 anos ou mais, o uso de IA é ainda mais reduzido, com apenas 6% relatando o uso e 91% nunca utilizando.
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Esses dados revelam que o uso de IA diminui significativamente com o aumento da idade. Essa disparidade pode ser explicada em parte pela familiaridade com a tecnologia que os jovens desenvolvem desde cedo, em contraste com as gerações mais velhas, que muitas vezes têm mais dificuldade em acompanhar as inovações tecnológicas.
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Além da faixa etária, o nível de escolaridade também se destaca como um fator crucial na adoção da IA. Entre aqueles com até o Ensino Fundamental, apenas 9% usaram IA, enquanto 88% nunca usaram. Para os entrevistados com Ensino Médio, 21% relataram uso, e 77% não. Já entre aqueles com Ensino Superior, 42% utilizaram ferramentas de IA, com 58% ainda não utilizando. A correlação entre escolaridade e uso de IA é clara: quanto maior o nível educacional, maior a probabilidade de utilização dessas tecnologias.
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Esses dados indicam que a democratização da IA no Brasil ainda enfrenta desafios substanciais, especialmente entre os que possuem menor nível de escolaridade. Esse fenômeno reflete não apenas as desigualdades educacionais, mas também o acesso limitado à infraestrutura tecnológica, como dispositivos e internet de qualidade, o que impede uma adoção mais ampla e equitativa da IA no país.
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Outro fator que influencia diretamente o uso de IA no Brasil é a renda familiar. Entre as famílias que ganham até 2 salários mínimos, apenas 13% utilizaram IA, enquanto 84% não o fizeram. Para aquelas com renda entre 2 e 5 salários mínimos, 22% usaram IA, e 76% não. Já entre as famílias com renda superior a 5 salários mínimos, 30% relataram o uso de IA, com 68% ainda sem contato. Isso revela uma desigualdade digital significativa, onde indivíduos de classes sociais mais altas têm maior acesso a tecnologias de ponta, enquanto aqueles com menor renda enfrentam barreiras maiores.
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Eliéser Ribeiro é sociólogo de dados, mestre em Sociologia, especialista em IA,
especialista em pesquisa e análise de dados. Trabalha com Python, R, SQL, Power BI, Tableau