Já pararam para pensar em como as eleições se assemelham a uma festa? Não no sentido figurativo de “festa da democracia”, como a propaganda oficial do TSE sugere, mas literalmente. Nas cidades, especialmente nas do interior, esse período traz uma agitação, com eventos diários que não só oferecem entretenimento à população, mas também proporcionam uma renda extra para muitas famílias. É uma verdadeira competição para ver quem faz mais barulho, quem tem mais carros e motos adesivados, quem leva mais pessoas para caminhadas e carreatas.
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Os gastos de campanha chegam a ser desproporcionais, com alguns candidatos investindo mais dinheiro do que receberiam de salário em um eventual mandato. Fato é que as eleições envolvem muito mais interesses do que só o salário a ser recebido pelos eleitos, alguns desses interesses inconfessáveis a luz do dia. A realidade é que essa “festa da democracia” tem muito de festa e pouco de democracia.
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Embora a participação popular aparente ser intensa durante a campanha, o mesmo não acontece ao longo do mandato. O eleitor que é convocado a ajudar no período eleitoral não é convidado a contribuir na gestão, sendo raros os casos de mandatos participativos. O poder, muitas vezes, isola os governantes, seja pelo medo de perdê-lo ou pela sensação de superioridade que ele traz. E é justamente a parte da democracia que fica de fora dessa festa.
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Não há um debate sério sobre os problemas reais da cidade, e muitos candidatos evitam debates. Em vez disso, o que se vê é um jogo de empurra-empurra entre quem está e quem já esteve no poder, como se o foco fosse descobrir quem deixou a cidade em pior estado. A verdade é que os problemas da cidade permanecem os mesmos há décadas. Basta lembrar, por exemplo, do problema do Lago, que já era uma questão em campanhas de 4, 8 ou 12 anos atrás.
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O mesmo vale para o lixão municipal, que há anos arde em chamas, deixando o ar insalubre, sem uma solução à vista. Além disso, Ceres tem perdido o protagonismo que um dia teve. Já foi um importante polo regional de saúde e educação, mas não é mais referência em saúde pública. Casos graves são encaminhados para Uruaçu, Goianésia ou Jaraguá, e, mesmo no setor privado, cidades vizinhas têm se destacado.
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Na educação, ainda mantemos relevância, sobretudo graças à UniEvangélica, ao Instituto Federal Goiano e à UEG, mas essas instituições carecem de apoio. A UniEvangélica, por exemplo, precisa de apoio político para abrir novos cursos, algo que deveria ser prioridade para todos os vereadores e candidatos. Em vez disso, os políticos locais preferem emendas de R$ 100.000,00 que, embora úteis, não movimentam a economia nem geram empregos de forma significativa.
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A pressão política também deveria ser usada para fortalecer o IF Goiano, ampliando seu quadro de servidores e cursos, e para revitalizar a UEG, que está estagnada e sem receber investimentos relevantes. A UEG, que já foi um ator importante na educação da cidade, hoje não abre novos cursos nem recebe grandes investimentos. Se realmente há uma parceria com o governador, como alguns candidatos afirmam, é o momento de cobrar investimentos em educação.
Cuidar do asfalto e embelezar a cidade é dever de toda prefeitura, pois pagamos impostos para isso. No entanto, são iniciativas como a ampliação de cursos que trazem um impacto duradouro à economia local, atraindo novos moradores e movimentando o comércio. Na saúde pública, o Hospital São Pio X desempenha um papel crucial. Sem ele, os problemas seriam muito mais graves.
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O exemplo a ser seguido parece ser o do Hospital de Caridade São Pedro de D’Alcântara, na cidade de Goiás, mas sem apoio efetivo do poder público, uma solução sustentável parece distante. Em Goiás Velho por ser o berço político de várias famílias políticas do Estado, mesmo com prefeitos do PT o Governo do Estado sempre ajudou a manter o bom funcionamento da instituição.
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A festa da democracia continua, mas em poucos dias passará, e sua “ressaca” deixará para trás os problemas não resolvidos da cidade. A esperança é que, além dos 13 eleitos em 6 de outubro, haja sabedoria suficiente para envolver toda a população na busca por soluções. Quando se deixa o ego de lado, é possível construir muito em prol do bem comum.
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Mas, como o sábio Rei Salomão bem asseverou no Eclesiastes “Vaidade de vaidades! Tudo é Vaidade. Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol? Uma geração vai, a outra geração vem, mas a terra para sempre permanecerá”. Ceres permanecerá e as vaidades vão ficando pelo caminho, marcha inexorável do tempo, que tudo trata de renovar.
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Said é descendente de árabes, mais um ceresino
com boa visão política e um colaborador do portal O Agregador