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IA no Brasil: Estamos preparados?

Neste artigo o especialista Eliéser Ribeiro explora até que ponto o Brasil está preparado para enfrentar essa nova era tecnológica
Publicado em 29 de novembro de 2024
por Eliéser Ribeiro

O Brasil, conhecido por sua rápida adoção de novas tecnologias, tem se destacado globalmente em inovação digital. Para exemplificar, o país ocupa hoje a quarta posição mundial no uso do ChatGPT, uma das mais avançadas ferramentas de Inteligência Artificial (IA) que transformou nossa maneira de interagir com a tecnologia.

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O ChatGPT utiliza um modelo transformer que facilita a compreensão da linguagem humana pela máquina, sem a necessidade de tantos códigos de programação. Da mesma forma, plataformas como WhatsApp, YouTube e Instagram têm um público altamente engajado e ativo no Brasil, consolidando o país como um dos maiores consumidores dessas inovações. A IA, portanto, segue essa tendência. No entanto, ao olharmos para a realidade brasileira de maneira mais ampla, fica claro que as desigualdades socioeconômicas criam desafios únicos para a adoção massiva da IA. Neste texto, vamos explorar até que ponto o Brasil está preparado para enfrentar essa nova era tecnológica.

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Neste texto, vamos abordar dados de uma pesquisa nacional que revela o panorama atual sobre o uso de Inteligência Artificial no Brasil, analisando como diferentes faixas etárias e níveis socioeconômicos estão interagindo com essa tecnologia. Em seguida, examinaremos uma outra pesquisa realizada com gestores de empresas de São Paulo, que oferece insights sobre o conhecimento e a implementação de IA nos negócios.

A partir daí, faremos uma comparação entre o Brasil e os Estados Unidos no que diz respeito à adoção e ao uso da IA, destacando as semelhanças e as diferenças entre esses dois mercados. Também discutiremos os grandes investimentos privados que estão sendo feitos em IA no Brasil, tanto por empresas nacionais quanto por gigantes globais. Finalmente, analisaremos o programa federal IA para o Bem de Todos, uma iniciativa do governo brasileiro para promover o uso inclusivo e ético da IA, buscando impulsionar a inovação enquanto enfrenta os desafios de desigualdade social e econômica.

Pesquisa Nacional Quaest: IA no cotidiano dos brasileiros

Uma pesquisa nacional conduzida pela consultoria Quaest, em maio de 2024, com 2045 respondentes de todo o país, revelou dados importantes sobre a penetração da IA no Brasil. O dado mais impressionante da pesquisa é o quanto a IA ainda é desconhecida por grande parte da população. Apenas 21% dos brasileiros relataram já ter utilizado alguma ferramenta de IA, enquanto 76% nunca tiveram contato com essa tecnologia. (Meu comentário a parte disso é como muitas pessoas não tem ideia de como a IA já está em muitas soluções que elas usam no dia-a-dia). Esses números revelam uma diferença significativa entre aqueles que já exploraram os benefícios da IA e a ampla maioria que ainda não teve essa experiência.

Para compreendermos melhor esses dados, é essencial mergulharmos em uma análise técnica-sociológica que desvende os fatores por trás dessa realidade. Ao segmentarmos o uso de IA por faixas etárias, 33% dos jovens entre 16 e 34 anos relataram ter utilizado IA, enquanto 65% não a usaram. Já entre a faixa de 35 a 59 anos, o número cai drasticamente: apenas 19% utilizaram IA, com 78% afirmando não ter tido contato com essas ferramentas. Por fim, entre os entrevistados com 60 anos ou mais, o uso de IA é ainda mais reduzido, com apenas 6% relatando o uso e 91% nunca utilizando.

Esses dados revelam que o uso de IA diminui significativamente com o aumento da idade. Essa disparidade pode ser explicada em parte pela familiaridade com a tecnologia que os jovens desenvolvem desde cedo, em contraste com as gerações mais velhas, que muitas vezes têm mais dificuldade em acompanhar as inovações tecnológicas.

Além da faixa etária, o nível de escolaridade também se destaca como um fator crucial na adoção da IA. Entre aqueles com até o Ensino Fundamental, apenas 9% usaram IA, enquanto 88% nunca usaram. Para os entrevistados com Ensino Médio, 21% relataram uso, e 77% não. Já entre aqueles com Ensino Superior, 42% utilizaram ferramentas de IA, com 58% ainda não utilizando. A correlação entre escolaridade e uso de IA é clara: quanto maior o nível educacional, maior a probabilidade de utilização dessas tecnologias.

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Esses dados indicam que a democratização da IA no Brasil ainda enfrenta desafios substanciais, especialmente entre os que possuem menor nível de escolaridade. Esse fenômeno reflete não apenas as desigualdades educacionais, mas também o acesso limitado à infraestrutura tecnológica, como dispositivos e internet de qualidade, o que impede uma adoção mais ampla e equitativa da IA no país.

Outro fator que influencia diretamente o uso de IA no Brasil é a renda familiar. Entre as famílias que ganham até 2 salários mínimos, apenas 13% utilizaram IA, enquanto 84% não o fizeram. Para aquelas com renda entre 2 e 5 salários mínimos, 22% usaram IA, e 76% não. Já entre as famílias com renda superior a 5 salários mínimos, 30% relataram o uso de IA, com 68% ainda sem contato. Isso revela uma desigualdade digital significativa, onde indivíduos de classes sociais mais altas têm maior acesso a tecnologias de ponta, enquanto aqueles com menor renda enfrentam barreiras maiores.

Avaliação positiva das experiências com IA

Apesar da desigualdade no uso, a avaliação das experiências com IA no Brasil revela um cenário promissor. Entre os que já utilizaram ferramentas de IA, 76% avaliaram a experiência como positiva, 19% como regular e apenas 3% classificaram como negativa. Esses dados mostram que, quando há acesso e familiaridade, a IA é amplamente aceita e apreciada pelos usuários, o que sugere um potencial de crescimento significativo para a tecnologia no país.

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A dualidade de sentimentos em relação à IA

Desde os primórdios da revolução industrial, a tecnologia tem sido vista tanto como uma força transformadora quanto como uma ameaça ao status quo. No imaginário popular, histórias de ficção científica, como o clássico filme “O Exterminador do Futuro”, onde a IA Skynet se volta contra a humanidade, e obras literárias como “1984” de George Orwell, moldaram a percepção de que o avanço tecnológico pode resultar em perda de controle e liberdade. Por outro lado, tecnologias como a internet e a automação revolucionaram o mundo, trazendo inovação, eficiência e novas oportunidades. Essa dualidade — oportunidade versus ameaça — continua presente na forma como a sociedade enxerga a Inteligência Artificial hoje.

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A pesquisa revela uma clara divisão nas percepções sobre a Inteligência Artificial: enquanto 46% das pessoas enxergam a IA como uma oportunidade, 37% a consideram uma ameaça. Essa dualidade reflete tanto o entusiasmo pelo potencial de inovação e eficiência que a IA traz, quanto as preocupações com os riscos, como a substituição de empregos, o controle de dados pessoais e a autonomia das máquinas. A diferença entre visões otimistas e receosas indica a necessidade de debates públicos e regulações que ajudem a equilibrar os benefícios e desafios dessa revolução tecnológica.

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Empresas brasileiras e o desconhecimento sobre IA — Pesquisa Fiesp

Por outro lado, o uso corporativo de IA ainda enfrenta obstáculos. Uma pesquisa realizada pela FIESP em 2024, com 304 gestores de empresas, revelou que 65% dos gestores possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre IA. Isso representa um grande desafio, visto que a capacitação em IA será essencial para que as empresas brasileiras se mantenham competitivas no cenário global. Apesar disso, 80% dos gestores afirmaram que pretendem buscar mais conhecimento sobre IA por meio de cursos e workshops, evidenciando uma crescente conscientização sobre a importância dessa tecnologia para o futuro dos negócios.

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Entre aqueles que já possuem algum conhecimento sobre IA, a maioria associa a tecnologia à automação de processos (65%), uma percepção comum, mas limitada, já que a IA vai além da automação tradicional. O uso de chatbots (51%), visão computacional (34%), análise preditiva (24,5%) e processamento de linguagem natural (23,6%) também foram mencionados, mostrando uma diversidade de aplicações que as empresas brasileiras já começam a explorar.

Conhecimento e adoção da IA

Vamos discutir o nível de conhecimento que as empresas têm sobre IA e onde elas pretendem buscar informações para se aprofundar nesse tema. Os dados apresentados revelam uma visão interessante sobre o conhecimento empresarial em relação à Inteligência Artificial (IA) no Brasil. A associação predominante da IA com a automação de processos (65,1%) e chatbots/assistentes virtuais (50,9%) indica que, para muitas empresas, a IA é vista principalmente como uma ferramenta para melhorar a eficiência operacional e atender clientes de forma mais ágil. Isso reflete um entendimento comum, mas também limitado, sobre o potencial da IA, que vai muito além da automação e do atendimento automatizado.

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Outros tópicos como pesquisas pessoais (35,8%), visão computacional (34,0%) e análise preditiva (24,5%) mostram que há um interesse crescente em explorar as diversas capacidades da IA para análises avançadas e inovações tecnológicas. No entanto, a porcentagem relativamente baixa de empresas que mencionam processamento de linguagem natural (23,6%) sugere que muitos gestores ainda não compreendem totalmente o valor dessa aplicação, que está na base de soluções como assistentes virtuais mais sofisticados, análise de grandes volumes de dados textuais e automação de conteúdo.

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Quanto às fontes de informação utilizadas, a internet (67%) lidera, seguida por mídia/notícias (46,2%), revelando que muitas empresas ainda confiam em fontes de fácil acesso e, muitas vezes, generalistas. Embora essas fontes ofereçam uma visão introdutória, elas podem não aprofundar o conhecimento técnico necessário para implementar soluções de IA de forma mais estratégica. É encorajador, no entanto, que cursos/workshops (38,7%) e eventos/conferências (34,9%) também sejam utilizados como meios de busca de informação, sinalizando um esforço das empresas para adquirir conhecimento especializado.

A menor busca por artigos científicos (28,3%) e consultorias (17,0%) destaca a lacuna entre a pesquisa acadêmica e o mercado corporativo, bem como a subutilização de consultorias especializadas, que poderiam oferecer insights práticos e personalizados para a implementação de IA de maneira mais eficaz. Esses dados indicam que, embora as empresas estejam buscando se informar, ainda há uma necessidade de capacitação mais profunda e um diálogo mais estreito com especialistas para maximizar o potencial da IA no ambiente de negócios brasileiro.

O Impacto da IA nos Negócios

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Os dados refletem um consenso crescente entre as empresas sobre o potencial transformador da Inteligência Artificial nos negócios. Quase 70% das organizações acreditam que a IA terá um impacto significativo, seja atingindo muitas áreas (49,3%) ou transformando completamente suas operações (18,4%). Isso demonstra uma expectativa positiva quanto à capacidade da IA de revolucionar processos, otimizar a eficiência e gerar novas oportunidades.

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No entanto, ainda há um grupo de 30,9% que acredita que a IA afetará apenas algumas áreas, sugerindo que, para algumas empresas, a aplicação da IA é percebida como limitada a certos setores. Curiosamente, uma pequena fração de 1,3% vê a IA como uma tendência passageira, o que pode refletir uma postura conservadora ou cética diante das inovações tecnológicas. Esses números apontam para a necessidade de capacitação e educação sobre o verdadeiro potencial da IA, uma vez que quanto maior o conhecimento, maior será a predisposição para aproveitar plenamente suas capacidades.

Impacto da IA: Brasil versus Estados Unidos

A adoção da IA no Brasil ainda está abaixo da dos Estados Unidos, onde 53% da população já utiliza ferramentas de IA, em comparação com 46% no Brasil. No entanto, o Brasil supera a média global de 38%, o que demonstra que o país está em um bom ritmo de crescimento, apesar de suas desigualdades. Fiz um relato mais detalhado sobre esses dados em outro texto aqui.

Nos Estados Unidos, a IA generativa tem tido um impacto significativo, especialmente na criatividade e no e-commerce. Ferramentas como o Adobe Firefly já geraram mais de 6,5 bilhões de imagens, e o uso de IA para a personalização de experiências de compra tem sido uma tendência crescente. No Brasil, o foco está mais na melhoria de serviços essenciais, como mapas de tráfego e corretores de texto, refletindo as necessidades sociais e econômicas do país.

Enquanto os Estados Unidos enfrentam desafios relacionados à substituição de trabalhos criativos pela IA, no Brasil, os principais desafios são a infraestrutura e a inclusão digital, com a necessidade de garantir que o avanço tecnológico não amplie as desigualdades existentes.

Projetos privados de IA no Brasil

O Brasil tem se mostrado uma terra fértil para investimentos em IA, especialmente com a chegada de grandes players globais. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, anunciou um investimento de R$ 14,7 bilhões no Brasil, somando-se aos R$ 10 bilhões já anunciados pela Amazon. Esses investimentos visam reforçar a infraestrutura tecnológica do país e permitir que o crescimento da IA seja sustentado por uma base sólida.

Além das gigantes globais, o Brasil também conta com suas próprias “big techs” emergentes, como o Mercado Livre, Nubank e iFood, que têm utilizado IA para otimizar operações e expandir seus negócios. O Mercado Livre utiliza IA para melhorar sua cadeia logística, enquanto o Nubank foca no atendimento ao cliente e na personalização de serviços financeiros. Já o iFood usa IA para otimizar rotas de entrega e prever demanda, melhorando a eficiência operacional.

Projetos Estatais de IA

O governo brasileiro lançou o Plano IA para o Bem de Todos, com o objetivo de promover o uso da Inteligência Artificial de forma inclusiva e sustentável no país. O plano visa desenvolver modelos avançados de IA, com foco em língua portuguesa e dados nacionais, fortalecendo a soberania tecnológica e contribuindo para o desenvolvimento social e econômico do Brasil, além de capacitar a população em grande escala. Veja o plano completo aqui.

Em termos de investimento estatal, o Brasil programa destinar R$ 23,03 bilhões para IA entre 2024 e 2028, um valor significativo, mas ainda distante dos investimentos de potências como Estados Unidos e China. Enquanto os EUA têm um forte envolvimento do setor privado, a China prioriza o setor público, com grandes aportes para infraestrutura tecnológica. O Brasil, embora esteja dando os primeiros passos, ainda enfrenta desafios para equilibrar investimentos públicos e privados, o que será crucial para o país se manter competitivo globalmente.

A tabela acima revela que o plano “IA para o Bem de Todos” destinará R$ 23,03 bilhões entre 2024 e 2028 para diversas áreas de Inteligência Artificial. O empresariado e a sociedade brasileira devem estar atentos às oportunidades de inovação e capacitação proporcionadas por esses investimentos, especialmente em inovação empresarial e infraestrutura tecnológica.

Conclusão

Se o Brasil está preparado para a IA? Ainda não. No entanto, o país já começou a dar passos importantes nessa direção. A adoção pela população é significativa, embora desigual, e o empresariado, mesmo de forma moderada, começa a investir. O governo lançou um plano que estabelece uma base promissora. A revolução da Inteligência Artificial está apenas começando, e poucos países estão realmente prontos para lidar com seus desafios.

O Brasil, porém, está no caminho certo, com investimentos crescentes e uma população receptiva à inovação. O futuro da IA no país dependerá de uma infraestrutura sólida, políticas públicas inclusivas e de iniciativas privadas que garantam o acesso igualitário aos benefícios da tecnologia, promovendo uma sociedade mais justa e inovadora.

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Eliéser Ribeiro é sociólogo de dados, mestre em Sociologia, especialista em IA,
especialista em pesquisa e análise de dados. Trabalha com Python, R, SQL, Power BI, Tableau

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Ficha Técnica

Editor Chefe: Luiz Fernando
Supervisão: Rafaela Prado
Redação: Kássio Kran

Imagem em destaque produzida por IA com a ferramenta Dalle 3 da OpenAI
Créditos: Eliéser Ribeiro

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