O ano era 1989 e aconteceria a primeira eleição direta desde 1960. O Brasil saía do período dos governos militares, chamados por algumas vertentes históricas de ditadura e quase 30 anos depois na retomada democrática, tivemos nada mais, nada menos que Silvio Santos como candidato a presidência liderando as pesquisas a frente de Lula que acabou indo pro segundo turno e Collor, eleito no pleito.
Senor Abravanel, o Silvio Santos, havia dito um ano antes, em meio as aberturas políticas que experenciava o Brasil, que “não queria ser político”, mas em outubro de 1989 declarou em TV aberta, num raro momento em que era entrevistado:
“Por diversas vezes, a Presidência chegou às minhas mãos, e eu sempre disse não, preferindo continuar na minha profissão. Eu nunca disse que não aceitava. Agora, alguma coisa faz com que eu participe da política.”
Silvio Santos
A decisão ocorreu em cima da hora. Faltando 11 dias para encerramento do prazo de oficialização de candidatos, Silvio foi a Brasília onde se reuniu com políticos importantes, entre eles Edison Lobão e Marcondes Gadelha em um encontro que se iniciou por volta de meia noite em um apartamento num espaço cultural dedicado a hotelaria e turismo.
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O partido escolhido depois de um complexo processo foi o atualmente extinto PMB (Partido Municipalista Brasileiro) que abriu mão de lançar seu fundador Armando Corrêa, para dar lugar ao Homem do Baú. A justificativa para tal feito histórico era que as eleições estavam muito polarizadas entre o PT (Partido dos Trabalhadores) de Luiz Inácio Lula da Silva e o PRN (Partido da Reconstrução Nacional) de Fernando Collor de Mello, portanto precisavam de alguém mais de centro para uma alternativa a rivalidade entre esquerda e direita.
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Mesmo entrando na campanha atrasado, Silvio mantinha a liderança nas pesquisas em todos os cenários, batendo com sobras qualquer adversário no segundo turno, adotando como plano de governo principalmente temas populares como saúde, educação e habitação e abordando de maneira estratégica o ataque a inflação, dizia que queria seu governo “cercado por homens de bem”, que pudessem desenvolver o país com “honestidade, sensatez e justiça”.
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Um dia depois da reunião em Brasília a candidatura de Silvio foi oficializada e se tornou o assunto mais comentado no país e o fato político mais importante do ano pelo nível de impacto que gerou nos bastidores da trama partidarista do Brasil. Jornais internacionais como o The New York Times também deram manchete a nova conjuntura e isto despertou ações das legendas junto a Justiça.
Como entrou atrasado, faltando poucos dias para a Eleição, após a desistência do fundador do PMB, o nome de Silvio não aparecia na cédula, que já havia sido impressa antecipadamente e não haveria tempo hábil para mudar, então na propaganda eleitoral, Silvio explicava que apesar de estar com outro nome, quando o eleitor que quisesse votar nele, deveria marcar o número 26. O voto era impresso e nele aparecia o nome do fundador do partido Armando Corrêa.

O PDT (Partido Democrático Trabalhista), que tinha como candidato Leonel Brizola impetrou na Justiça Eleitoral uma ação questionando a propaganda que citava um candidato que não estava oficialmente inscrito, no caso Armando Corrêa, o que anularia o direito da veiculação da publicidade e 4 dias após o início da divulgação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) suspendeu as propagandas da campanha de Silvio Santos no rádio e na TV.
Mas os ataques a candidatura de Silvio Santos não pararam por aí. Foi acusado de ser o administrador de seu canal de TV, o SBT, já que a legislação obrigava o desligamento de funções do tipo, 6 meses antes da eleição. A defesa do candidato elucidou que o empresário não tinha cargo gestor já há muitos anos. O PRN, partido do Collor, apresentou pedido de impugnação, dizendo que o PMB, partido de Silvio Santos, estava com o registro irregular por não ter realizado convenções regionais em pelo menos 9 estados e convenções municipais em um número mínimo de cidades, contrariando a legislação.
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E com base nisso a Procuradoria Geral Eleitoral barrou a candidatura de Silvio Santos. O parecer que tornou inviável a participação do candidato registrado pelo PMB foi oficializado no dia 9 de novembro de 1989 e hoje completa 35 anos. A Corte também considerou o parecer do Ministério Público Eleitoral, reconhecendo a inelegibilidade de Silvio, uma vez que ele não constasse formalmente como diretor do SBT, exercia poder sobre a empresa de comunicação. E em uma votação rápida a portas fechadas por unanimidade de 7 votos ele não conseguiu disputar a eleição, realizada 6 dias depois.
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Em 1992, Silvio tentou ser candidato a prefeito de São Paulo, mas passou por situação semelhante e desistiu da política de uma vez, nos bastidores, porém, nunca deixou de exercer um imenso poder, mantendo boas relações com absolutamente todos os presidentes, independente da ideologia. Os biógrafos do maior apresentador de todos os tempos, dentre eles o próprio Gadelha, em seu livro Sonho sequestrado: Silvio Santos e a campanha presidencial de 1989 de 2020, conta que o empresário foi vítima de uma conspiração engenhosa e implacável por parte de seus adversários que ficaram incomodados com a popularidade do artista e teve 18 pedidos de impugnação.
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que trata de assuntos históricos marcantes
Kássio Kran é psicólogo, palestrante e terapeuta,
fundador do Instituto Ubuntu e da Fundação Henrique Gabriel dos Santos.
Atualmente é CEO do PASH – Plano Assistencial em Saúde Holística
