Eu quero passar despercebido, andar livremente, ser independente não de mãos que me conduzam, mas de mentes que me julgam, de olhares piedosos, do desconforto de ser a toda hora comparado aos padrões NORMAIS (serão mesmo normais?), padrões estes de uma Sociedade de valores tão pequenos. Mãe! Não chore por mim, não me limite nem pense que sou um protótipo que não deu certo.
Leia agora: Existe mulher perfeita? – Artigo da especialista Lia Muniz
Minha Síndrome me limita aos seus limites. Eu posso vencer o gigante, é você quem vai decidir. Se livre dos seus medos, seus fantasmas me assombram. Eu posso te surpreender, eu venci os 299 milhões de espermatozoides pra chegar aqui, não me limite aos seus limites.
Quer me levar a Disney? Viaje primeiro dentro do meu mundo, depois viajaremos no seu. Só não deixe que na sociedade, na escola eu seja visto com a limitação daqueles que só me conhecem por fora, mas imponha a eles um tratamento igualitário, assim me sentirei mais confortável… mãe eu quero crescer!
Eu me vejo muitas vezes como uma estampa colorida, onde todos os olhares se voltam, mas nem todos se agradam. Não precisa ser assim, se confortem por mim, minhas limitações não doem, é normal, eu nasci assim e o desconforto não é meu e sim seu, mas o preconceito é uma chaga que rói a você e a mim, pois se seu sorriso me acalma, sua ansiedade me julga e me condena… pobre autista!
Leia agora: Brincar simbólico e concreto: Diferentes manejos – Artigo da especialista Lara Muniz
Mas se me absolver posso ser tão normal quanto você pois é pretensioso quem normal se julga ser! Vem! Me leva ao jardim, amo flores! Não as vejo, mas posso toca-las, sentir seu cheiro e a agradável sensação da brisa, e quando toco em sua face, meus sensores me dizem que você é linda!
Eu quero ousar, aprender LINGUAS EM BRAILE. A minha cegueira só me limita se não houver quem me habilite a ler com os dedos, eu estou pronto… e a sociedade e o poder público, estão preparados pra me levar ao ponto?
Sempre que vejo uma valsa, meu coração dança em mim, mas, hoje eu vou convida-la a dançar, pois posso dar os melhores passos em minha cadeira. A sensibilidade da dança sinto em mim latentes, sinto desejo de bailarmos nesse salão e se houvesse mais acessibilidade acho que seria impossível me parar nessa minha máquina possante quanto meu coração pulsante!
Veja agora: Conheça o Centro de Equoterapia de Ceres
Eu nunca saberei o timbre da minha voz, pois eu vim condicionado ao eterno silêncio e as vezes acho que o Criador me quiz poupar dessa louca e extravasada multidão de vozes confusas que só falam e quase não ouvem o que no meu silêncio fala mais que mil palavras. Eu sei que minhas mãos darão voz às minhas brilhantes ideias, pois minha voz em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) fala com doçura, enquanto tantos gritam sem razão!
Muitas vezes me isolo dentro do meu quarto, ouço gritos, tenho medo. Minha realidade muda de endereço e me leva do Céu ao Inferno e vozes gritam aos meus ouvidos dizendo pra eu pular no abismo. Eu luto, me sinto muito frágil, como um pássaro sem asas, minha gaiola, minha casa, ruídos me atordoam.
Quero quebrar essas correntes, furar esse bloqueio, quero de volta minha mente que a esquizofrenia rouba de mim, não sou todo tempo assim. Eu não posso ser curado, mas se receber tratamento adequado, posso viver na sociedade, trabalhar, amar e ser amado. Não me chamem de louco, pois até você que se diz normal comete loucura e é natural. Segundo um ditado popular… de santo e louco todo mundo tem um pouco!
Leia agora: Aporofobia e a covarde perseguição ao Pe. Júlio Lancellotti – Artigo de Fleury Júnior
Eu exponho as minhas deficiências que são tão mais suportáveis do que a da SOCIEDADE que caminha alienada e só quando esbarram em nós, ou esbarramos nela sentem a momentânea comoção e até sorvem lágrimas, essas que mesmo agradecendo não as queremos,.. ou então choraremos também por vós, diante da vossa inércia, uma deficiência pior que a nossa!
Eu vos convido a juntarmos nossas fragilidades e ganharmos armaduras pra lutar, não só por nós, mas também pela cura de uma política passiva e tímida que escreve leis e as colocam nas gavetas e caminham a passos lentos por uma sociedade racionalmente humana.
Ouse! Se o Céu é o limite, busque toca-lo e acredite, tenha fé e faça o que tem que ser feito, não use isso como frase de efeito, mas faça algo por e pra você, pois apenas Deus e você são os Mestres do seu destino!
Lucimar Seabra, a mulher da letra e do papel.
Ceresina que escreve poemas e poesias desde os 8 anos de idade.
Autora do livro Sonhe, com um enredo que pulsa ao som de Rock And Roll
e motiva mulheres a se reinventarem, convidando-as a voar como borboletas em busca de seus sonhos.
A vida para ela é como o vento, não sabe se virá, mas sente a brisa e se direciona a voos
onde sua realidade se funde aos seus sonhos