Segregação socioespacial — amplamente estudada pela Geografia, especialmente no campo da geografia urbana — evidencia como as cidades, impulsionadas pelo capital financeiro especulativo, associado ao poder político hegemônico, que definem e organizam as áreas privilegiadas, bem como os espaços carentes de infraestrutura urbana, que acabam abrigando os grupos vulnerabilizados.
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O geógrafo Milton Santos, numa discussão denominada “O espaço urbano”, considera que tal experiência pode fragmentar as práticas sociais e produtivas e culminar na alienação do indivíduo e da coletividade que está inserido, inviabilizando a compreensão do processo de produção (social, econômica, política, cultural, etc.) em sua totalidade.
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Historicamente, esse processo se repete: na reforma haussmanniana de Paris, no século XIX, a modernização e o embelezamento da cidade expulsaram a população pobre para regiões periféricas; no início do século XX, a reforma de Pereira Passos, no Rio de Janeiro, demoliu cortiços e empurrou moradores para morros e subúrbios; e, atualmente, políticas como as implementadas por Donald Trump nos Estados Unidos, ao remover pessoas em situação de rua de áreas nobres, reiteram essa prática.
Trata-se de um mecanismo de extermínio socialmente produzido, no qual o Estado, ao deslocar a pobreza para periferias de difícil acesso ou deliberadamente negligenciadas, retira dessa população o acesso a condições humanas básicas, como saneamento e serviços essenciais. Assim, a Geografia demonstra que a segregação socioespacial não é um fenômeno “natural”, mas sim uma construção deliberada pelo capital e pelos gestores urbanos, cujo objetivo é criar uma “vitrine” voltada ao consumo, ao turismo e ao investimento.
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Na totalidade, trata-se também de uma demonstração de poder, sustentada à custa da invisibilização e vulnerabilização das camadas mais pobres. Sobretudo, o ser humano, em sua complexidade e múltiplas perspectivas, torna-se objeto de experimentação das grandes forças econômicas e políticas. Passa a ocupar, de forma desigual, espaços planejados para atender a interesses específicos, perpetuando concentrações de riqueza em áreas consideradas espelhos da cidade. Por outro lado, a pobreza, via de regra, expõe o arranjo que associa a ideia de “feio” ao contexto socioespacial, relegando as grandes periferias a um lugar marcado pelo estigma e pela marginalização.
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Janathan Firmino, licenciado em Geografia (UEG, 2010), pai de Kauê e João Pedro,
professor, massoterapeuta e terapeuta holístico.
Criado por mulheres, suas principais referências, vó, mãe e irmã, ambas falecidas.
Um homem que observa o espaço geográfico não só como lugar físico, mas como palco das transformações humanas,
onde cada indivíduo busca seu lugar em meio às tensões do tempo e do capital.