Eleito novo prefeito da capital de Goiás, o ex-deputado federal Sandro Mabel (UB) fez uma fala no mínimo infeliz nos primeiros dias de seu mandato. Sua intenção aparentou ser a de mostrar a população goianiense serviço já desde o começo e assim fez referência a funcionários públicos que não trabalham de maneira adequada na prestação de seus serviços. Confira a transcrição do que ele disse:
“Quem entrou, prestou concurso e tem oito horas de contrato, tem que trabalhar as oito horas, né? Para trabalhar as cinco e nem só para picar ponto. Então a nossa inteligência está pegando uma porção de pessoas que estão atendendo em escritório de psicologia. Então nós fomos atrás, filmamos, mexemos, fizemos consulta e vimos que estava fora até quatro, cinco anos, recebendo o salário e está atendendo. Então fica doente só com funcionários públicos.”
Em sua polêmica fala declarada na sede da Fecomércio no dia 15 de janeiro de 2025 afirmou ainda que deveria ser considerado santo por curar mais de mil funcionários da prefeitura que estavam de licença médica, sob a ameaça de revisar todos os atestados apresentados pelo funcionalismo público. Ele que recebeu amplo apoio da comunidade evangélica para se eleger, banaliza e vulgariza o processo de canonização da Igreja Católica, pois uma coisa que normalmente político tem, é pecado e de forma atrevida podemos dizer que por isso, um político jamais será um santo, pode ser um Sandro, mas não um santo.
“Eu vou ser canonizado, eu vou ser santo. Porque em três dias, depois que eu anunciei que eu vou pegar todos os atestados médicos, e quem não tiver com o atestado certo, eu vou revisar todos. E quem tiver com o atestado para junto, eu vou cobrar tudo para trás. Eu curei mil e poucos servidores que já voltaram para o trabalho. Olha só! Eu curei!”
Claro que o prefeito usou um tom jocoso para auto afirmar-se uma santidade, mas na história há um homem considerado santo que em sua vida humana foi um político, o inglês Thomas More, só que isso foi no Século XVI e suas atitudes eram bem diferentes das dos políticos brasileiros atuais, além de ser um defensor dos costumes católicos e não banalizá-los.
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Em sua fala Mabel ao se referir a uma suposta farra de atestados citou nominalmente a classe de psicólogos e não cita outras profissões e pode ter feito isso usando a Psicologia como exemplo, mas ao fazer generaliza e ataca a categoria, como se esses mais de mil profissionais afastados em sua maioria fossem todos psicólogos, além de por em xeque a credibilidade de documentos de afastamento dos trabalhadores sem apresentar provas e sem considerar publicamente as falhas institucionais que podem estar também deteriorando a qualidade do serviço prestado ou mesmo a saúde dos servidores e ao invés de também propor melhorias nesse cuidado, apenas acusa e transfere toda a responsabilidade, dando um tapa na cara dos direitos humanos, coisa que um homem não faria, ainda mais, santo.
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O Conselho Regional de Psicologia (CRP) não tem autonomia para atuar em questões trabalhistas, como é o caso em questão, mas a fala do prefeito não atinge apenas os psicólogos, mas também atinge em cheio a Psicologia que em tese deveria ser defendida pelo órgão de classe da profissão que até aqui se calou em pleno ano eleitoral para a entidade.
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Em casos que envolvam diretamente o trabalhador, o órgão responsável pela defesa deveria ser o sindicato que representa a categoria, mas o Estado de Goiás há anos não tem, demonstrando que o profissional está sozinho e vulnerável, abrindo brechas para oportunismos e populismos. A verdade é que não se deve condenar uma classe por atos individuais, assim como fazem com os casos isolados de injusta agressão policial, desvinculando tais ocorrências da corporação. Acusar sem provas é uma ilegalidade, nesta situação não contra alguns profissionais, mas sim contra um batalhão de mais de 15 mil psicólogos espalhados pelas 246 cidades de Goiás.
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Kássio Kran é psicólogo, palestrante e terapeuta,
fundador do Instituto Ubuntu e da Fundação Henrique Gabriel dos Santos.
Atualmente é CEO do PASH – Plano Assistencial em Saúde Holística e produtor cultural