A violência é um fenômeno social que atinge os homens desde antes da civilização e é resultado de uma desordem na relação ocasionada pelo rompimento de códigos de ética, de conduta e de moral, mantendo assim a prática animalesca ausente de consciência que quebra a civilidade e os valores humanos. Nas palavras do filósofo Thomas Hobbes “o homem é o lobo do homem” que numa tradução popular significa aproximadamente que o homem tem em si seu maior adversário.
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Em verdade a frase é de autoria do dramaturgo romano Platus e em latim é escrita como homo homini lupus e indica que o homem é capaz de grandes atrocidades e barbaridades contra seus semelhantes, jogando no lixo por inúmeras vezes como vemos nas manchetes estampadas nas capas dos jornais ou nos reels do Instagram, a máxima cristã de “amar o próximo”.
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Presente em todas as esferas sociais desde a automutilação, passando pela agressão verbal, violência doméstica dentro das nossas casas, intolerância nas redes sociais, brigas por candidatos de estimação, assassinatos e suicídios por dificuldade em lidar com sentimentos, emoções e relacionamentos, dedo do meio mostrado no trânsito ou até mesmo tragédias por motivos banais. Não seria diferente nos esportes e muito menos em um dos mais praticados, o futebol.
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Para exemplificar isso, não é necessário recorrer a uma ocorrência internacional. Em cenas lamentáveis que não serão expostas por esse portal de conteúdos por não compactuar com a política interna de diretrizes, ocorridas em março de 2024 durante o Campeonato do Norte Goiano Categoria Sub-20 na cidade de Santa Terezinha na primeira rodada do returno, o árbitro da partida, senhor Ricardo Lima, sofreu graves ameaças de agressão física com a consumação de violência verbal e psicológica.
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Por não concordar com a condução da partida, o técnico da equipe Santa Terezinha Esporte Clube, conforme nota oficial da organização do campeonato, praticou as agressões informadas além de incitar que seus jogadores e torcedores assim também fizessem. E o resultado foi uma correria dentro de campo, com a autoridade da partida correndo e saltando obstáculos, desviando de objetos jogados contra sua pessoa.
A LIDENGO (Liga Desportiva do Norte Goiano) entidade filiada a FGF (Federação Goiana de Futebol) se manifestou magistralmente e puniu o time com a eliminação do certame. Já o técnico da equipe está suspenso por 36 meses. A partida em questão foi contra a equipe do Itapaci Esporte Clube. A Liga tem como presidente o senhor Justino Marques.
Em Ceres que fica a pouco mais de 100km da cidade que foi palco desse episódio horroroso, outro time de Santa Terezinha se envolveu num polêmica. Ao final de uma partida infantil um integrante da comissão técnica instigou as crianças de sua equipe contra os atletas do time da casa e o fato gerou uma discussão acirrada que poderia ter sido evitada.
Na cidade vizinha a Ceres, Rialma, em seu mais tradicional campeonato, a Copa da Amizade que está com 4 décadas de existência, uma cena violenta também foi flagrada na rodada do dia 09 de junho de 2024. Jogadores da equipe Red Bull da cidade de Itapuranga, também insatisfeitos com a atuação do árbitro da partida, desferiram na autoridade do jogo, golpes físicos de violência. Não se sabe o motivo, mas o caso não foi divulgado pela mídia local e nenhuma medida pública foi tomada, dando a entender que a situação segue impune.
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Outra situação extremamente grave ocorreu no Estádio Jonas Duarte em Anápolis, em partida válida pela 12ª rodada da Divisão de Acesso Goiana, mais conhecida como a 2ª Divisão Estadual. No fim do jogo, em um momento de discussão na beira do gramado, um policial que estava trabalhando na segurança da partida, disparou ao que tudo indica, acidentalmente contra o goleiro Ramón do Grêmio Esportivo Anápolis, time da casa que jogava contra a equipe Centro Oeste. O caso ganhou notoriedade e foi parar no Ministério do Esporte, conforme nota.
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É por situações como essas que se faz urgente a inserção de profissionais da Psicologia no futebol, uma vez que vemos cada vez com mais frequência e cada vez mais perto da nossa realidade estes cenários de confrontos carregados de descontrole emocional que resultam em atitudes antidesportivas, por ceder a aquilo que sente e por isso, padecer, como bem já disse o ditado popular: se a cabeça não pensa, o corpo padece.
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Kássio Kran é psicólogo, palestrante e terapeuta,
fundador do Instituto Ubuntu e da Fundação Henrique Gabriel dos Santos.
Atualmente é CEO do PASH – Plano Assistencial em Saúde Holística e assessor de cultura em Ceres