É difícil falar de racismo, especialmente quando pessoas brancas insistem em não o ver, apenas em se beneficiar dele, como Djamila Ribeiro ao afirmar que o privilégio branco consiste em benfeitorias concedidos socialmente a quem é branco, independentemente de intenções individuais.
Leia agora: Ceres no Avesso da Pele
Nesse sentido percebo que sempre que abordo temas que escancaram o assunto, especialmente na escola, com temas como população brasileira e diversidade racial, formação da população brasileira, cotas raciais e sua efetividade, aparecem olhares de ironia ou críticas de colegas e alunos brancos. Mas também percebo, entre os estudantes, aqueles que expressam a tristeza de sentir o racismo na pele e, principalmente, no cabelo — o famoso cabelo alisado.
Leia agora: Ser Negro no Brasil: Entre resistir e ensinar, um relato pessoal
Que é outra forma de racismo, a qual normaliza preconceito com cabelos mais volumosos e cheios, onde fica muito claro que a violência capilar é naturalizada entre as pessoas negras, que muitas vezes adotam uma identidade que nem é a que gostam, preferindo lidar com queimaduras e dor a se aceitarem como são, sendo que são cabelos lindos e únicos.
Leia agora: Lógica colonial marca gol na final da Copa
O fato é que esse tipo de preconceito afeta pessoas que com olhar descolonizado é difícil identificar, eu por exemplo, aos 20 anos fiquei calvo e nem percebi, porque sempre raspava o cabelo para não ser alvo de críticas referentes a esse aspecto da cultura afro que foi tão rejeitado aqui no nosso país.
Leia agora: Ser negro no Brasil
Sendo o que Carla Akotirene aborda, essa violência capilar é parte de um sistema de opressão racial e de gênero, conectando o cabelo à autoestima, à identidade e à expressão de ser negro(a) no Brasil. Ela ainda argumenta que a pressão para se conformar a padrões de cabelo eurocêntricos pode causar um tipo de violência simbólica e psicológica. A violência capilar, nesse contexto, não é apenas sobre agressão física, mas também sobre as cobranças sociais e o apagamento da identidade racial através da estética.
Leia agora: Conceição Evaristo e o negro pós-abolição
Contudo ao participar da terapia psicológica quinzenal, com a Mestre Flora Carolina do grupo Psiafro, que vem com a proposta de fortalecer a autoestima de pessoas negras, me sinto mais resolvido com muitas questões internas, preparado e disposto a enfrentar esse debate e a ser uma referência para meus estudantes, dizendo a eles que são lindos e que não precisam de validação para serem aceitos.
“É incrível
Emicida – Cê Lá Faz Idéia
Quantos de nóiz sentam no fundo da sala
Pra ver se fica invisível.
Calcula o prejuízo
Nossas crianças sonham
Que quando crescer vai ter cabelo liso”
Leia aqui, mais textos de Janathan Firmino
Janathan Firmino, licenciado em Geografia (UEG, 2010), pai de Kauê e João Pedro,
professor, massoterapeuta e terapeuta holístico.
Criado por mulheres, suas principais referências, vó, mãe e irmã, ambas falecidas.
Um homem que observa o espaço geográfico não só como lugar físico, mas como palco das transformações humanas,
onde cada indivíduo busca seu lugar em meio às tensões do tempo e do capital
