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Lógica colonial marca gol na final da Copa

A velha discussão sobre o racismo entra em campo. Para alguns o preconceito racial é falta grave e para outros é jogada normal.
Publicado em 19 de dezembro de 2022
por Kássio Kran
Estádio Lusail - Sede da final da Copa do Mundo Catar 2022
Estádio Lusail – Sede da final da Copa do Mundo Catar 2022 (Foto: Divulgação)

Fim de jogo, Argentina bate a França nos pênaltis e é a mais nova tricampeã da Copa do Mundo e a velha discussão sobre o racismo entra em campo. Para alguns o preconceito racial é falta grave e para outros é jogada normal. Assunto clichê, mas que é necessário justamente para que se torne desnecessário no futuro e se não fosse importante a discussão, as entidades futebolísticas jamais considerariam quando em verdade até realizam campanhas contrárias a prática que diminui a humanidade de alguém diferente.

Muitos periódicos espalhados pelo mundo trouxeram o questionamento sobre o motivo da seleção argentina ser composta apenas por jogadores brancos, por ser um país latino-americano, mas não questionaram o fato de a França ter tantos jogadores negros, sendo um país europeu. Mais uma vez a grande mídia responsabilizando o colonizado pelos atos do colonizador numa inversão histórica que se repete a cada vez que um preto é abordado e confundido com um ladrão, mas nesse caso a lógica perversa está inversa, pois o branco (Argentina) é acusado pelo preto (França) e nessa miscigenação às avessas, vamos descobrir quem é quem nesse jogo.

Então vamos começar com por que a seleção albiceleste é tão branca? Alguns jornais disseram que não há negros no time sul-americano unicamente por racismo. Outros portais disseram que é pelo fato de serem escolhidos apenas os melhores e isso levanta outra discussão: entre os melhores, não há um argentino negro? Esse argumento já é uma jogada que termina com um impedimento sinalizado. É inquestionável que os melhores estavam em campo, tanto que levaram a taça e eles são brancos.

A questão racial no nosso vizinho é bastante complexa, tanto quanto ou até mais que no Brasil. A mistura racial lá se deu de uma forma a tornar historicamente o seu povo mais homogêneo no quesito cor de pele e isso acaba gerando uma dificuldade de autoidentidade e uma negação da própria negritude devido ao embranquecimento histórico, dado pelo recebimento de milhões de imigrantes europeus que passaram a conviver com os povos originários entre o século XIX e XX, o que trouxe para los hermanos um rearranjo cultural, mas invisibilizou a minoria que varia entre 5% e 10% de afrodescendentes que em contraponto aos mais de 50% no Brasil, representa um silêncio racial dos “europeus da América”, que fica tão gritante quando clubes argentinos jogam contra times brasileiros em campeonatos internacionais, como a Libertadores da América, por exemplo e a torcida deles nos chamam de macaco e jogam banana no gramado.

Os argentinos também deixaram claro seu preconceito durante toda a Copa entoando cânticos homofóbicos em referência a um suposto relacionamento do artilheiro Mbappé com uma mulher trans e cânticos xenofóbicos na derrota para a Arábia Saudita contra seus torcedores em sua estreia, Atos racistas também foram registrados após a final contra o francês Coman, mas nas redes sociais e por parte de pessoas de sua própria nação. Mas isso não é novidade por lá. Em 2020 o astro Mbappé cogitou deixar sua seleção por ser também alvo de ofensas racistas, inclusive por parte de um dirigente.

Ora, com aquele escurecimento todo tão evidente principalmente a partir do segundo tempo da final com as substituições, como dizer então que há racismo na seleção francesa? Uma pesquisa realizada pelo Instituto CSA a pedido da Comissão de Direitos Humanos da França em 1998 (ano do primeiro título francês) atestou que 58% da população tinha inclinação para desempenhar um comportamento racista, com a Copa acontecendo lá.

“Não posso jogar para gente que pensa que sou um macaco. Pensei em nunca mais voltar a seleção”

Mbappé

Apesar de sua equipe multiétnica e dar um show de diversidade valorizando o slogan do país (Igualdade, Liberdade e Fraternidade), a França está longe de ser um exemplo de democracia racial. Ter 15 jogadores negros no elenco não é sinal de paridade e sim de desigualdade, considerando ainda que estes ou tem dupla nacionalidade ou ascendência africana, ou seja, a seleção francesa é fruto do processo de colonização recente portanto é resultado de exploração. O assunto é muito mais amplo do que essa discussão em resenha pós-jogo.

Leia agora: A religião de Lionel Messi

Mbappé é filho de camaronês, Dembélé têm origem em Mali, na região africana do Saara e até o treinador Zidane e outros jogadores tem nacionalidade argelina. Trata-se da exportação de pessoas de outras etnias para a prestação de serviços. Remete a lógica perversa da escravidão, com altos salários sim, mas ainda em pleno século XXI com tratamentos que diminuem a dignidade humana, como vimos no texto e lembrando das palavras de Galvão Bueno em sua última narração em Copas: “não é o dinheiro, tem muitas coisas que valem mais”, ao se referir a conexão familiar de Lionel Messi, que desconsiderando todo esse “mimimi” para os racistas e esse “beabá” para os antirracistas, mereceu ganhar essa Copa.



Ficha Técnica

Texto: Kássio Kran

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Dirceu Lopes foi um grande jogador de carreira internacional, que mereceria um verbete na Wikipédia. Nascido em Minas Gerais, escolheu Ceres para ser sua terra do coração.
Em carta conjunta, empresas de tecnologia explicam como o PL 2630/2020, o PL das Fake News, pode acabar mudando a internet como conhecemos hoje.
Conheça a história desse artista, que é um ícone querido na cidade de Rialma e em sua vizinha, Ceres. Com vocês, Elvis!

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