A arte sempre será um veículo transcendental que nos conduz a lugares que de outra forma talvez jamais alcançaríamos. Foi por esse caminho sensível que Dona Jacira entrou em minha vida — através das músicas do seu filho, Leandro, conhecido pelo nome artístico de Emicida.
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A obra de Emicida provoca reflexões profundas e integrais sobre minha existência. Graças a ele me redescubro mais consciente, mais desperta, mais humana.
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Foi particularmente em uma música chamada “Mãe” que conheci Dona Jacira. Essa canção tocou meu corpo como se fosse poesia encarnada, mas com o mesmo vigor emocional de um disciplinar de vara de amora, como aqueles vindos da minha própria mãe. Fiquei intrigada ao ver mãe e filho colaborando artisticamente — como eu mesma já fiz com minha mãe. Havia ali uma conexão tão sublime, tão cósmica, que me perguntei: quem é essa mulher?
Veja o Instagram de Dona Jacira
Descobri quem era Dona Jacira — uma das mulheres mais extraordinárias que eu poderia ter o privilégio de me conectar. Emicida não exagerava.
Meu apreço por ela se aprofundou quando conheci seu livro “Café” das editoras LiteraRUA e Laboratório Fantasma. Uma obra que merece ser lida com atenção e reverência. Antes de ser mãe do Emicida, Dona Jacira já era uma mulher de saberes profundos. Autodenominada guardiã dos conhecimentos ancestrais, escritora, Artista Plástica, terapeuta, e formada em técnica de enfermagem, ela narra com firmeza e emoção sua árdua jornada para acessar o direito à educação.
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Durante o período pandêmico de 2020, tive a honra de realizar meu primeiro trabalho ao lado dela. Meu coração quase cessou, tamanha a intensidade espiritual daquele momento — quem é sensível à espiritualidade entenderá a dimensão de colaborar com algo que serve ao bem coletivo.
Foi em uma live no Instagram realizada pelo Instituto Ubuntu, organização da qual faço parte como Gestora de Relações Humanas. Ali, discutimos o processo de criação do livro “Café”. Foi uma das experiências mais genuínas que já vivenciei. E ali se entrelaçaram nossos caminhos — eu me sentia filha.
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Mantive contato com Dona Jacira pelas redes sociais, trocando mensagens íntimas e reflexivas. Participava dos grupos virtuais que ela organizava, acompanhava suas lives pela manhã, onde ela conversava com suas plantas — uma cena que, para mim, era puro afeto.
Veja aqui o Making-of: Live com Dona Jacira
Em 2022, no PASH — primeiro Plano Assistencial em Saúde Holística do Brasil — organizamos um encontro de PICS em Ceres, Goiás. Convidei Jacira para contribuir e ela, mesmo passando por hemodiálise, entrou ao vivo por chamada de vídeo. Sim — no meio de um tratamento delicado, ela colaborou com amor por um projeto em que acreditava. Ela sabia, como especialista em desenvolvimento humano, da potência transformadora desse trabalho. E ali tive a certeza de que nossa conexão transcendia as fronteiras do cotidiano.
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Mesmo residindo em São Paulo, ela sempre demonstrava abertura para colaborar conosco. Entre seus projetos mais recentes estavam uma linha artesanal de cosméticos: sabonetes, cremes, todos feitos por suas próprias mãos. Ela criava, produzia e comercializava — tudo com o cuidado de quem cura com a pele.
Outra iniciativa era o famoso escalda-pés e os exercícios para as mãos. Um saber terapêutico que eu desejava trazer para Goiás, ciente de que só ela poderia fazê-lo com autenticidade e propriedade. As conversas estavam em andamento — o sonho parecia possível.
Infelizmente, não concretizaremos esse projeto juntas.
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Infelizmente, você desencarnou antes que eu pudesse tocar suas mãos e agradecer por tanto. O universo é testemunha da minha gratidão. Eu, minha equipe e todos que tocamos com esse trabalho sempre honraremos sua existência.
Axé, Dona Jacira.
Você foi e continuará sendo inspiração.
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Thátilla Vanessa, também conhecida pelo nome artístico de Ninfa Azul é maranhense,
artista plástica, professora de artes, terapeuta em ventosaterapia,
gestora de recursos humanos do Instituto Ubuntu
e acadêmica do curso de Pedagogia pela PUC Goiás