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“O futebol de várzea acabou”, diz dirigente que desistiu de time na quebrada

As contradições desanimaram: dinheiro de bets, cachês altos e campos sintéticos, mas nenhuma melhoria para a comunidade
Publicado em 16 de julho de 2025
por Marcos Zibordi

“Enquanto tiver tiazinha catando lata na quebrada, não tem que pagar mil reais pra jogador nenhum”, dispara Nego Marcos, 50 anos, cria do Jardim Leme, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Ele refundou o time de várzea da quebrada, ficou por anos à frente do corre, mas desistiu – ele não quer a várzea ostentação, com mais dinheiro, sem gerar melhorias para as quebradas.

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A história de Nego Marcos daria uma série. Foi assaltante de banco temido, passou por várias cadeias, inclusive o Carandiru, e quando ganhou a liberdade, em 1999, voltou a Taboão da Serra. Uma das primeiras providências foi refundar a Associação Atlética Ponte Preta Leme. Ajudou o time a crescer, ganhar status, dinheiro, campeonatos.

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Mas desistiu. Seu post de despedida no Instagram reclama que o time “não tinha nome de político na camisa” e que “virou um negócio que só serve a meia dúzia. Rifa, camisa e só. Não é mais sobre a favela, a comunidade, o bem coletivo. É sobre o bolso e o ego”.

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Em entrevista ao Visão do Corre, ele conta sua experiência na Ponte Preta, time fundado em 1982 por Altamiro, Dedé, João Corintiano e Zezito – nomes esquecidos, outro motivo de desgosto para Nego Marcos.

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Por que você saiu da Ponte Preta?

Começo a observar falta de banheiro feminino, a questionar onde estão investindo o dinheiro, começo a ter desgaste com os caras. A Ponte Preta elitizou, me afastei. Entendi que ninguém vai mudar ninguém na base do soco.

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As bets entraram na várzea?

Quem tem dinheiro agora são as bets, elas estão acabando com tudo. Me ofereceram 300 mil reais para fazer propaganda, um duro como eu, ex-assaltante, um cara que trabalha com aplicativo. O tigrinho é o novo craque, é o craque digital.

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Os agiotas estão cobrando caro?

Tem um movimento rolando no submundo, tem cara devendo trinta, quarenta mil de jogo. A agiotagem está matando pra caramba. Tem morte e suicídio de gente devendo. Um monte de cara perdeu pro craque, e agora vai perdeu pro Tigrinho.

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Elitizar significa excluir dentro da favela?

Vou te dar um exemplo. Num jogo da Ponte, pagamos mil reais para o goleiro. Saímos para o jogo e uma senhora foi junto. Enquanto o time jogava, ela catava latinha na beira do campo, e todo mundo achando aquilo normal.

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Qual seria outro problema, além da exclusão?

A maioria dos jogadores são adultos. Os donos de time estão ostentando, pagando dez mil reais para fulano, beltrano, mas os moleques da várzea jogam cada vez menos. Com a ostentação, se perdeu o DNA da rua de baixo contra a rua de cima. Não é mais comunidade contra comunidade, é poder de grana contra poder de grana. Você mata os times pequenos.

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Mas sempre rolou grana na várzea, qual a diferença agora?

A gente tem várias empresas inseridas, muito mais grana. O futebol de várzea não existe, o que tem é o futebol amador. A várzea alimentaria o amador. Ela se transformou, agora querem só o troféu. Não é criticando o troféu, nem o dinheiro, o problema é na mão de quem ele passa. Não está se criando nada na favela a partir dessa grana.

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Onde circula o dinheiro da várzea?

Não circula na mão do cabeleireiro, da lanchonete, do tiozinho do bar. Põe dinheiro na periferia, mas a parte de baixo continua sem. A gente não está preparado para lidar com esse dinheiro. Acham preferível pagar mil reais para um goleiro do que construir um banheiro no campo.

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É a várzea ostentação?

Esse movimento de glamour dentro da favela, sem querer, exclui. Se a gente acredita na mágica da bola, quando o menino vem atrás, ele tem que encontrar a gente, pessoas da favela, ele precisa enxergar vencedores na várzea que vieram dali: o repórter, o fisioterapeuta, o técnico, e principalmente o jogador. Só que não encontra.

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Marcos Zibordi é editor do Visão do Corre, no portal Terra

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Ficha Técnica

Editor Chefe: Luiz Fernando
Supervisão: Rafaela Prado
Redação: Kássio Kran

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Créditos: Freepik

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