“Perfeição” o mais alto nível em uma escala de valores, excelência no mais alto grau, sem defeitos, sem falhas. O padrão social do “Ser mulher” beira a perfeição, diariamente somos bombardeadas com cobranças inatingíveis, sobre questões estéticas, profissionais, intelectuais, afetivas…
Estamos sempre à mercê das expectativas que criaram sobre nós, e há tanto tempo vivendo em busca desse padrão, perdemos a nossa real essência e identidade. A vivência “A mulher perfeita”, idealizada e ministrada pela equipe de mulheres do PASH Doulagem, traz reflexões sobre esse tema e traz às mulheres a consciência do peso desse padrão e a busca interna por si mesmo.
Recentemente foi realizada com um grupo de mulheres no Centro Cultural de Ceres, no evento “Semana da Mulher” promovido pelo Gerente de Esportes e Cultura Mosair Jacob. A vivência coloca as participantes em uma imersão onde irão idealizar uma mulher perfeita e trazer à roda as características de seu ideal de perfeição, e o resultado, foi surpreendente.
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Com a junção e mistura das características que todas pontuaram, que seria importante uma “mulher perfeita” apresentar, obtivemos: uma mulher bonita, meiga, delicada, sem estrias, uma boa mãe, uma boa dona de casa, uma boa esposa, uma guerreira, uma mulher virtuosa, mulher que não toma medicamentos, uma mulher calma…
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Entre outras características, esse é o retrato da “Mulher perfeita” descrita pelo grupo. Precisamos ser tudo isso e muito mais para sermos aceitas, precisamos ser tudo isso e ainda por cima, sermos calmas, e não podemos nem ter o auxílio de medicação, para manter essa calma, de acordo com o que a dinâmica extraiu do grupo.
Quando idealizamos uma mulher perfeita nos distanciamos de nós mesmas, perdidas em meio a tantas cobranças e pressões, “cavamos um abismo com os nossos pés”, como retrata a música “O mundo é um moinho” de Cartola. Cavar é um ato que se realiza com as mãos, mas o realizamos com os pés, pois cavamos um abismo, pisando sem rumo, caminhando por caminhos contrários à nossa essência, e “em cada esquina cai um pouco tua vida, e em pouco tempo não serás mais o que és.”
“O mundo é um moinho” me faz rememorar as batalhas imaginárias do personagem literário Dom Quixote de La Mancha. Quixote, lutava contra moinhos de vento acreditando ser dragões, lutava contra pastores de ovelha, acreditando ser um grande exército de soldados e saia por aí, em missões irreais, lutando por sua amada Dulcinéia.
Essa obra literária nos apresenta uma mulher perfeita, a Dulcinéia, e a sua perfeição não está no fato de performar todas as cobranças sociais, mas sim, no fato de ser uma mulher irreal. Dulcinéia foi apenas um delírio de Dom Quixote e acreditar que esse padrão social é real, é um delírio nosso. Nessa história, nós, mulheres, somos o Dom Quixote, aquele que luta por algo que é irreal, que anda sem rumo, perdido, a mercê de situações que só existem em sua própria mente.
Mas se estamos andando sem rumo, qual caminho deveríamos seguir?
Como disse o Mestre Gato para Alice, em “Alice no país das maravilhas”: Se não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve.
E se não sabe aonde quer chegar, é porque é preciso se encontrar
“Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar”
Preciso me encontrar – Cartola
Com a canção de Cartola finalizou-se a vivência para mulheres e iniciou-se ali, uma jornada em busca de si mesmo, por cada uma das mulheres presentes. Não temos que encontrar a mulher perfeita, temos que olhar para dentro e nos encontrar!
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Lia Muniz é enfermeira obstétrica, doula,
membro da Comissão de Práticas Integrativas em Saúde do COREN-GO
e diretora do PASH, Plano Assistencial em Saúde Holística